Quanto agosto, ele esteve em minha vida. Nasci em agosto. Disputávamos quase tudo, até mesmo os segundos domingos de agosto em que caiam o Dia dos Pais. Agosto tinha o sabor de bolo de baunilha, recheado com goiabada e coberto de glacê real, com confeito de bolinhas coloridas e prateadas. Agosto me lembra um presente desejado e magicamente recebido: um sapatinho azul. Estava eu enamorada com tão bela prenda, com a cara colada à vitrine da loja numa galeria chique, um sonho, mas a realidade do preço fazia aquela menina boboca, limpar a baba do canto da boca e cair na realidade: aquele objeto desejado não era para meu bico. Também não podia imaginar que estava sendo vigiada, observada, por olhos que desde que nasci nunca me deixou de guardar. Ao acordar naquela manhã de 10 de agosto, alguma coisa me incomodava em minha cama, então lá estava, reluzente, meu sapatinho azul. Outros agostos vieram. Vieram bijus, caixinhas enfeitadas, roupas transadas, comidinhas especiais, se fosse eu enumerá-las, ficaria um baita tempo esmiuçando detalhes... Lembro-me de uma época patética em minha vida, a adolescência. Nesse agosto eu pedia que parassem o mundo que eu queria descer; num outro seguinte, resolvi mudar o mesmo, com minhas volúveis teorias. Declarei guerra a sociedade vigente: resolvi ser hippie. Credo! Foram vinte quatro horas somente. As palavras sem censuras não me fizeram parar com conselhos, mas me fez ver vivenciando a situação, e me fazendo tomar atitudes. Ganhei palavras que sempre me fizeram refletir, palavras que me deram liberdade para tomar minhas próprias decisões. Muitas delas acertadas, muitas delas me fizeram cair de boca no chão para que eu aprendesse por mim mesmo a engatinhar, levantar e caminhar de novo... “Permita que seu cérebro trabalhe!” Já adulta, um agosto aconteceu tenebroso, quando criador e criatura bateram-se de frente. Medimos forças. Estávamos morrendo abraçados, e não nos entregávamos, afinal, éramos feitos do mesmo barro! No outro agosto, o amor venceu, o amor reconstruiu, resgatou o que tínhamos deixado pelo caminho. Foi tudo brincadeira. Fazia parte do aprendizado. Nesses agostos todos, eu tinha uma certeza, eu tinha para onde voltar e pedir um conselho, um indicação para encontrar um caminho perdido. Agora fazem dois agostos que não te vejo. Mas saiba que em todos os agostos que vier a ter, você vai estar na minha vida, PAI! Anjos da guarda existem, às vezes eles vão estar com Deus. Porque pai também é filho! Coração de açúcar, saudade!
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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