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COLUNISTA
Julinho Mendes
08/09/2009 - 07h34
O prefeito e seu espelho
 
 
Arquivo JCM 

Depois de sonhar com o cargo de deputado federal, o prefeito acordou todo sorridente, lavou o rosto e olhou no espelho. Tomou um grande susto ao ver sua imagem triste; sorria de um lado e do outro apresentava-se triste. Não estava mais sonhando. Era real! Sua imagem estava triste; sorria, arreganhava os dentes e do outro lado a imagem da tristeza; sua boca envergada para baixo, pálpebras arriadas, e foi nos olhos o maior terror, não aparecia a íris (parte circular escuras dos olhos), era um branquidão só, feito duas bolas de ping-pong. O que estaria acontecendo? Bateu a cabeça na parede, esmurrou, chacoalhou... até que voltou a enxergar a íris de seus olhos no espelho. Sua imagem era horrível e de desespero. Perguntou a si mesmo: “O que está acontecendo?” Sua imagem então respondeu do outro lado:

- Estou triste! Virei a íris dos olhos pra dentro da cabeça para enxergar seus pensamentos, e vi que a coisa tá feio! Seus pensamentos é só corrupção, compra de votos, desvio de verbas, apadrinhamentos, cabide eleitoral, superfaturamento de obras, porcentagens em contratos... tá feio!

Apavorado se perguntou de novo: “O que eu posso fazer para me livrar desse vírus político que me agarrou? Não sei fazer política se não pensar na corrupção, na compra de votinhos para a próxima eleição, não sei largar o rabo de vereadores, não sei ficar sem o caixa dois...”

- Éééé, seu caso é grave, é a mesma doença do bigodudo lá das bandas do Planalto, mas tem um remédio bom para isso: Picão do roxo! Isso é falta de vergonha na cara! Lave a sua cara com vergonha misturada com picão do roxo, três vezes ao dia durante sete dias, depois vá a sua igreja e faça uma oração pedindo perdão à Jesus e a Deus; caso eles não estiverem de saco cheio com você, eles irão te ajudar.

E assim o prefeito fez, passou picão até aonde não devia, foi pra sua igreja e lá orou pedindo salvação. Deus não deu nem confiança ao safado que ali estava.

Voltou ao espelho todo triste e deparou com sua imagem toda sorrindo e arreganhada de alegria do outro lado. A imagem lhe falou:

- Você é uma besta mesmo! Tá com medo, né? Agora é tarde pra se arrepender das roubalheiras e das compras de voto que você fez, mas vou te dar mais uma chance de se renovar.

- Fala, fala, fala que eu obedeço - respondeu o aflito prefeito à sua própria imagem.

- Você vai tomar uma atitude séria e responsável em sua administração.

- Fala, fala, fala que eu obedeço.

- Acabe com o empreguismo e apadrinhamento desnecessário, solte o rabo dos vereadores para que eles possam te fiscalizar e elaborar projetos de leis em favor da sociedade. Solte o rabo dos proprietários de rádios e jornais para que eles possam noticiar sua administração de forma livre e honesta; que as porcentagens destinadas aos caixas dois de contratos de obras e serviços, de merenda escolar, de transporte urbano... sejam revertidas para projetos culturais e esportivos.

Muitas e muitas coisas o prefeito falou a si mesmo através de sua imagem no espelho.

No outro dia, em seu gabinete, o prefeito foi chamando um por um de seus secretários, assessores, vereadores, empresários. Colocou na entrada da porta uma fotografia de uma vaca deitada e um par de luvas sem dedos, para que os mesmos não tentassem lhe puxar mais o saco e que nas tetas daquela vaca não iria ser mais possível mamar. Explicou que a mamata tinha acabado e foi dando ordens e exigindo um breve e eficaz projeto de desenvolvimento sócio-cultural, esportivo, de saúde, educação, ambiental, urbanístico, turístico, despoluição visual, e tantos outros para melhora da cidade e de seus moradores pagadores de impostos.

A noite voltou a conversar com seu espelho e sua virtual lá dentro nada respondia, apenas fazia os gestos de seu real. Sentiu um alívio, voltou ao normal, mas sabia que tinha muito trabalho a fazer, tanto para aplicar corretamente o dinheiro da arrecadação municipal, como para desacostumar da mamata seus servos puxa-sacos.

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