28/08/2025  11h13
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
COLUNISTA
Fátima Souza
15/09/2009 - 07h12
Morro do Arrependido
 
 

Esse morro fica na Praia Dura. Uma das mais belas praias de Ubatuba. Mais precisamente atrás da capela e da escola que lá existem hoje. Tem esse nome devido à dificuldade que era para se chegar ao Sertão do Corcovado. As pessoas que de lá vinham ou iam subiam aquele morro. Quando no topo se sentiam arrependidas de tamanha façanha. Mas esse trajeto tinha que ser feito de dia, porque à noite corria o risco de morrer de medo ao passar por debaixo de um enorme cambucazeiro que lá existia. Sem mais nem menos uma chuva de areia cobria a todos que por lá passavam. Uma chuva de areia vindo sabe Deus de onde.

Logo em seguida, o sapezal no morro se abria como se soprado por um gigante. Então, gritos ensurdecedores ecoavam morro acima. Contavam que ninguém passava por lá sozinho. Andava-se em comitiva. Tamanho era o terror que aquele evento produzia. Muitas roças por aquelas bandas foram abandonadas. Só se passava pelo local por grande necessidade.

Mas um dia, Nhanhã Chiquinha foi morar na Praia Dura. Uma santa senhora que rezava o dia inteiro. Curava a todos com seus benzimentos e remédios caseiros. Vestia-se tal qual uma freira. E sempre se via enrolado em seu pulso o santo rosário.

Pois uma noite, atendendo a pedidos de seus semelhantes, Nhanhã Chiquinha rumou para o malfadado lugar, acompanhada de várias pessoas que queriam assistir, mas de longe.

Nhanhã pegou seu rosário, e com um gesto em cruz, rezou a palavra “retornada”. A palavra “retornada” só é de conhecimento de pessoas que possuem o dom da cura, e é passada de benzedor para benzedor. Então sua reza surtiu efeito. No meio da missiva “A Coisa” apareceu. Jogou–lhe um fardo de areia fazendo Nhanhã cambalear. Em seguida se ouviu um grito que cortou os céus. O capinzal se abriu aterrorizando a todos. O cambucazeiro balançava como que sofrendo a força de um vendaval. Nhanhã terminou a oração, passou a mão num vidro que trazia rente a cintura com água-benta e aspergiu nos ramos do cambucazeiro.

Um silêncio se fez ouvir. Nem os grilos cantavam.

Desde esse dia ninguém viu e nem ouviu mais nada. E Nhanhã Chiquinha viveu cento e poucos anos para contar essa história.


Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
ÚLTIMAS DA COLUNA "FáTIMA SOUZA"Índice da coluna "Fátima Souza"
23/12/2019 - 09h23 Bolo mágico
29/08/2018 - 06h56 Vestido azul piscina
24/08/2018 - 06h18 Tsunami
03/02/2017 - 06h56 Sanapismo
16/09/2016 - 05h43 Viva capela Nossa Senhora das Dores do Itaguá!
28/10/2015 - 09h00 Abenção, Ubatuba!
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.