Contavam os antigos que todo dia treze de agosto, acontecia na ilha do Mar Virado, a reunião das bruxas. Essa reunião era para delegar afazeres para a grande convenção que acontece no dia 30 para 31 de outubro, o Dia Mundial das Bruxas. Numa noite dessas, um grupo de pescadores foi mais cedo se reunir no rancho de canoa, no portinho do Salvador, na praia Dura. Precisavam arrumar as tralhas de pesca, que iriam levar pro mar de madrugada. Ao chegarem junto ao rancho viram-no iluminado. Lá dentro várias mulheres falavam e gargalhavam escandalosamente, fazendo uma balburdia só. Mulheres no rancho, àquelas horas? Resolveram se esconder e observar o andamento da situação. Depois de tanta farra, as mulheres desceram a canoa até a água, entraram dentro delas e saíram rumo a ilha do Mar Virado. As mulheres eram horrendas, vestidas com trapos escuros, e unhas enormes... Amedrontados, não arredaram os pés dali. Montaram guarda para esperar o retorno de tão enfadonha trupe. De madrugada elas retornaram. Colocaram as canoas no lugar e saíram em forma de fitas coloridas e reluzentes, rumo ao Pico do Corcovado. O dia estava clareando. Os pescadores encorajados com a luz do dia foram revistar o rancho. Para a surpresa deles, tudo estava intacto, do jeitinho que eles deixaram. Era dia treze de agosto. Sexta–feira, um noroeste quente soprava o capim e as goiabeiras que ladeavam a praia Dura, do Canto dos Prados até a Pedra do Marisco. O capim melado arrepiava as suas touceiras lembrando uma doida, uma louca descabelada. Um dia misterioso. Com a valorização imobiliária naquela praia, hoje em dia as bruxas tomaram outro rumo mais a contento. Pela barulheira, som alto e atazanação dos vizinhos, acredita-se que elas estão no Sumidouro.
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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