A Ilha do Prumirim, de quem olha do canto esquerdo da Praia do Puruba, assume um aspecto de peixe. Tem até o olhinho, que é uma pedra que o morro ostenta. Os pescadores antigamente dormiam na Ilha do Prumirim só em caso extremo e necessário. Falavam que por diversas vezes, ao precisarem, puxavam a canoa, viravam-na de boca para baixo e se acabanavam para dormirem. Em época de mês de agosto, os pescadores eram surpreendidos ao acordarem ao relento. Suas canoas apareciam fundeadas no mar ou jogadas de qualquer jeito na praia. Certa noite destas, Apolinário chegou à ilha. O mar encapelou de repente, e ficou difícil ir para o continente. Correu para a ilha. Puxou a canoa, se meteu debaixo dela para se proteger do forte vento. Adormeceu. Acordou assustado com o aguaceiro de chuva na cara. Cadê a canoa? Seu dedão do pé estava amarrado com uma fita encarnada. Que diabo era aquilo? Perguntou-se. As tralhas estavam junto dele, mas a canoa havia sumido. Apolinário juntou seus trecos e tralhas e procurou uma toca de pedra para se abrigar até o mau tempo passar. A tempestade deu uma estiada. Foi então que viu mulheres chegando em sua canoa. Deixaram a canoa no lagamar da praia, e em fitas luminosas rumaram para a pedra grande do morro. A mesma que se faz de olho na topografia do morro da Ilha do Prumirim. Perplexo, Apolinário tomou tento da fita encarnada que segurava. Seria um agradecimento pelo uso da canoa? “Cruz Credo”, pensou ele... Pinchou fora o adorno. Mas pensou melhor, quando as idéias clarearam. Pegou a fita encarnada e amarrou no cabo do remo. Meio desconfiado jogou a canoa na água e rumou para terra. Na primeira remada, a canoa tomou uma propulsão que rapidinho chegou. Levou o remo para casa e guardou no canto da sala. Sua mulher viu a fita encarnada no remo, e se encantou por ela. Pegou a fita e colocou no cabelo. Apolinário apagou a lamparina e foi se deitar. Estranhou a janela aberta e a cama vazia. Cadê a mulher? Ela estava embasbacada flutuando na cumeeira da casa!
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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