Três pescadores se reuniram na praia do Itaguá, arrumaram as tralhas de pesca. Passaram o porto do Albino, rumaram sentido ao cais do Porto. Escalaram as pedras da costeira e se apoitaram nas pedras do Remo de Voga, pesqueiro de sargo, garoupa, marimbá, salema etc. Esperaram escurecer. Lançaram os anzóis na água e nada, parecia que naquele dia os peixes estavam em greve com os pescadores. Isca ia para a água e anzol voltava vazio. Os pescadores contavam com um peixinho para matar-lhes a fome, ali mesmo na costeira, pois nada levaram para comer. Eis que de repente um cheiro de carne assada chegou até eles, fazendo seus estômagos se remoerem ainda mais. Um dos pescadores alegou uma vontade repentina de ir até mais pra dentro do mato aliviar o almoço. Pinchou-se pela grota que dá para a praia do Cedro à procura do tão desejado churrasco. Foi aí que viu um enorme tolete de carne arder num braseiro na clareira da praia. Passou a mão no seu canivete que pendia na cintura e cortou um belo pedaço de carne assada. Quando ia levar a iguaria à boca surgiu do mato, mais precisamente atrás de uma velha jaqueira, uma coisa medonha gritando: “- Eu quero minha pauquera, eu quero minha pauquera...”. O susto foi tanto, que quase não achou o caminho de volta para o pesqueiro onde estavam seus amigos. “Mas homem que é homem não sente medo de nada”, pensou ele. Respirou fundo e voltou a pescar. Vendo a cara do companheiro que chegava, uma cara de gato que comeu o passarinho da gaiola, o outro pescador muito enxerido inventou uma outra coisa e fez o mesmo caminho de seu colega, levou uma mesma corrida, que quase perde as calças pela trilha. O terceiro pescador que não era bobo nem nada, botou reparo em seus companheiros sem nada perguntar, mas deduziu que alguma coisa estava acontecendo, pois, os dois homens estavam com caras de “Sinhá Mariquinha cadê seu frade”. Mais precavido, o terceiro pescador, se muniu de uma cruz feita de galhos de árvore e tomou o rumo feito pelos outros dois. Chegou junto à fogueira. O pedaço de carne ardia reluzente e apetitoso no braseiro. Como fazia em sua casa, não tomava nada por alimento sem antes rezar. Assim o fez, em seguida cortou um pedaço da carne e comeu. Uma rajada repentina de vento apagou o fogo. A medonha voz gritou: “- Eu quero minha pauquera. Eu quero minha pauquera.” O pescador riscou um círculo no chão e fincou a cruz feita de galhos de árvore, e se pôs lá dentro rezando o que sabia. O vento acalmou, e a voz saiu rumo a ponta do morro do Surutuba, maldizendo–se: “- É o que te vale, é o que te vale!!!”
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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