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COLUNISTA
Fátima Souza
25/06/2010 - 13h05
O Poço da Serpente
 
 

O rio Cajarana nasce no Corcovado. Em determinado ponto ele se divide em dois, formando outro braço que é chamado de rio do Meio. Esses dois rios vão se encontrar para desembocar no mar com o nome de rio Escuro. Esse nome se dá ao fato de as águas serem turvas, pela quantidade de matéria orgânica que traz. O encontro desses rios aumenta a velocidade da água. Essa força aqüífera cavoca poços profundos, fazendo-os exímios criadouros de peixes, como tainhas, robalos etc. Essa informação eu tive quando era criança... Hoje, depois de um bocado de tempo, mais precisamente dos anos setenta para cá a agonia desses rios é de dilacerar o coração de quem como eu brincava em suas águas no portinho da casa de meu avô Salvador Carlos. Às vezes, aliás, muitas vezes, ele me colocava em sua canoa, e navegávamos da Folha Seca até a praia Dura, onde ele tinha um rancho de pesca. Dava um medo danado quando passávamos pelo Poço da Serpente. Esse medo era proveniente dos causos contados pelos mais velhos da redondeza, quando se reuniam depois do almoço no terraço da casa para tocar viola e deixar a criançada de olhos acessos, ouvidos abertos e quase que petrificados com as estórias medonhas. ”Credo em Cruz, Santíssimo Sacramento do Socorro Amado!!!”.

Então eles contavam essa lenda: que até pouco tempo atrás, os pescadores não se atreviam nem passar perto do pesqueiro perto da toca. Lá era moradia de uma “mulher bicho”, era mulher da cintura para cima, e serpente da cintura para baixo. Diziam que em época de enchente ela gritava ao sair da toca, e atacava quem se atrevesse ir ter com ela. Os moradores viviam assustados. Ela só sumiu de lá, foi para outro lugar, depois que Nhanhâ Chiquinha rezou perto da cabeceira da toca.

Com tudo isso esses dois rios eram uma maravilha. Meu avô pescava tainha no portinho!

Hoje os rios se arrastam pedindo socorro. Uma serpente maior e mais potente chamada “progresso” lá chegou e envenenou os rios que estão licorosos pelo desmatamento e esgoto que desce rio abaixo, bordando suas margens de chorume. Quanto ao portinho de meu avô, ele ainda está lá às voltas com os lixos encarapitados nos tronco em sua curva, cercado de casas por todos os lados; só na minha lembrança é que ele continua íntegro tal e qual eu o conheci.


Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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