Quando eu tinha de 7 pra 8 anos, comecei a ter certos hábitos estranhos e meio "loucos". Fui descobrir, aos 14, que se tratava de TOC (ou você achou que o texto "A divisória da calçada" surgiu do nada?). Me levaram no psiquiatra, que diagnosticou a doença com nome bacana, e depois, no psicólogo, que disse que minhas manias de evitar as riscas no chão e verificar onze vezes se a porta estava trancada (nem dez nem doze; ONZE) eram reflexos da minha baixa autoestima. Autoestima é aquela maravilhosa sensação de bem-estar consigo mesmo. É aquilo te faz saber que você é bom em algo. Autoestima não é falta de humildade, prepotência ou arrogância; é a consciência de que, mesmo tendo defeitos (como todos), você tem seu valor e é especial. A autoestima anda lado a lado com a autoconfiança; uma não existe sem a outra. Quem a tem é feliz por si só e não precisa da aprovação dos outros. Naquela idade, não sabia até que ponto esse negócio de "baixa autoestima" era verdade; afinal, como a auto-depreciação podia me trazer manias que me fizessem parecer um retardado? Porque, que eu saiba, organizar objetos no armário, de modo que cada um fique a cinco centímetros de distância dos outros, não é hábito de gente normal. O fato é que o psiquiatra me receitou um remédio pra acabar com a ansiedade e devolver minha autovalorização. Paroxetina. Era o cloridrato disso que eu engolia, em forma de comprimido. P-A-R-O-X-E-T-I-N-A: 10 letras, um número perfeito. Não é maravilhoso? Digo, você está triste, cabisbaixo e se achando um nada e vem alguém e te diz: "É, meu jovem, vá até a farmácia e resolva seus problemas". E você pode se perguntar: "Poxa, mas não seria mais bacana alguém te ’levantar’ por meio de conselhos sobre como viver uma vida mais feliz e mais leve?". Claro que sim! Pra que você acha que as psicólogas existem? Se você quiser conselhos, vá a uma psicóloga! Ela te dará quantos você quiser, mediante pagamento mensal, num período de cinquenta minutos semanais (e 50 nem é um número legal!). E é incrível como os humanos, seres tão ridículos e tão burros, conseguem colocar a autoestima dentro de um comprimido. Já conseguiram outras façanhas, como criar sites de "relacionamento", lugares que iludem pessoas, fazendo-as pensar que têm amigos. Talvez, daqui a alguns anos, coloquem talentos dentro de medicamentos, como o dom para se fazer desenhos abstratos. Não me lembro bem quanto custa a autoestima na farmácia, porque já faz um ano que não a levo pra casa. Mas creio que esteja por volta dos trinta reais. Sinto falta dela.
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