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COLUNISTA
Elcio Machado
13/02/2013 - 14h00
Carlota, o que falta em Ubatuba? Saúde, certamente
 
 

Que pergunta, Carlota. Ora, o que falta? Falta, primeiro, educação, educação de berço, educação escolar, educação formal, escolas com professores bem pagos, educação política para cobrar essas coisas, investimentos municipal, estadual e federal em educação, royalties do pré-sal inclusos. Falta muita coisa, mas falta principalmente vergonha na cara da enorme turma que por oito anos fez e desfez e deixou a cidade como ela hoje está. Faltou você perguntar para os candidatos em quem votou (será que você se lembra em quem votou?), caso tenham sido eleitos, por que estavam deixando acontecer esse descalabro. Faltou você (permita-me chamá-la assim, falta pouquinho para que eu esteja isento de pagar a passagem do ônibus) estrilar antes, quando essas coisas estavam acontecendo. Falta cidadania, que foi o que você exerceu (e parabenizo-a) ao reclamar e mostrar as mazelas daqui, coisa que pouca gente faz.

Falta saúde em Ubatuba. Falta um hospital verdadeiramente hospital, não um centro de despacho de pacientes em ambulâncias (há um esquema lucrativo privado vicejando) com destino a hospitais melhores. Falta um Pronto Socorro Municipal. Mas o que falta mesmo é saúde civil.

Só como grande parêntese, você já ouviu falar no dr. Luiz Roberto Barradas Barata, médico e secretário da Saúde do governo Alkmin? Foi ele o inspirador, ainda durante o mandato Serra (de quem era muito próximo), da lei tal como é hoje que proibiu fumar cigarro em bares e restaurantes e nos prédios etc. Foi um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde - SUS. Passava férias em sua casa de veraneio, aqui em Ubatuba, quando, belo finzinho de tarde, em 17 de julho, 2010, diagnosticou-se com infarto agudo do miocárdio. Sabe o que fez? Deu instruções precisas a seu filho para que imediatamente o levasse ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, na Zona Sul de São Paulo, que - Barradas Barata era fiel aos seus princípios - atende pelo SUS. Foram de carro, porque, imagino, as condições climáticas não permitiriam vôo de helicóptero, aquele tipo táxi aéreo que fica zanzando entre Paraty e Ubatuba. Resultado: chegou praticamente morto lá. Não quis arriscar o hospital de Ubatuba, nem o hospital de Caraguatatuba, que estavam no caminho (assim como o Incor, já em São Paulo). Era médico (sanitarista), tinha princípios e sabia das coisas, inclusive o descaso de sua pasta (que ocupava desde 2003) para com o Litoral Norte.

O grande parêntese foi para dizer que Caraguatatuba irá inaugurar, no dia 16 de fevereiro, às 10h, na Avenida Maranhão, 451, no bairro Jardim Primavera, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) "Dr. Luiz Roberto Barradas Barata". A partir do dia 18, segunda-feira, aquela UPA estará em pleno funcionamento, afirma a Prefeitura de Caraguatatuba, junto com o Pronto Socorro Municipal, num prédio com área total de 2.200 metros quadrados.

Faltam uma ou duas UPAs em Ubatuba, há gestões, o prefeito atual, Maurício Moromizato, esteve em Brasília para iniciar as negociações para isso, falta definir locais - e já se sabe que precisarão atender as regiões centro-norte e sul, bem como é necessário que os terrenos sejam à beira da rodovia Rio-Santos, e não no centro urbano. É que minutos, quando se trata do congestionado trânsito de alta temporada, contam, quando se trata de salvar vidas.

Falta um Pronto-Socorro municipal. Falta um Hospital (com agá maiúsculo) municipal.

Faltam ambulâncias, Carlota, e vans para transporte de pacientes (pacientes com muita paciência, como você, para o Ambulatório Médico de Especialidades - AME) para Caraguatatuba, Taubaté e São José dos Campos e, no futuro, para Caraguá ou São Sebastião (Ubatuba desistiu de concorrer), quando, e se vier a ser construído, for inaugurado o hospital regional de média complexidade que o governador Alkmin prometeu no mês passado para o Litoral Norte.

O que não falta?

Falta quase tudo, mas a pergunta pode ser invertida: o que não falta? Se falta educação formal, escolas que não estejam caindo aos pedaços, se falta pagar melhor os professores, não falta um Centro do Professorado de Ubatuba, que tem um teatro, que faltava a Ubatuba, mas que a famosa iniciativa privada, ávida por lucros, poderia ter construído com recursos próprios, porque essa coisa deve dar (ou até já deu) lucro a alguém. Não falta o elefante do Centro de Convenções, inacabado, que a famosa iniciativa privada, com recursos próprios, poderia ter construído, porque essa coisa deve dar (ou até já deu) lucro a alguém. Talvez não faltem empreendedores com visão de futuro, corajosos e dispostos a investir seu capital próprio - não o do município - nas coisas em que acreditam.

Não falta um nobre presidente da Câmara querer gastar dinheiro (nosso, do contribuinte) com um novo prédio para abrigar os dez nobres do legislativo municipal e mais um séquito de servidores, os de carreira e os nomeados de ocasião. Não falta cacife político ao novo prefeito, eleito com quase metade dos votos num pleito com uma penca de candidatos, para não investir dinheiro do Executivo nessa gastança prematura.

Menestrel das Alagoas

Para justificar o segundo parágrafo, é necessário explicar que falta saúde civil em Ubatuba, lembrando a música que virou hino, em homenagem ao nascido de rica família de latifundiários do Nordeste, Teotônio Vilela. Ele percorreu todo um caminho às avessas, da direita da UDN e Arena, e depois MDB e PMDB, numa parceria com o professor Ulysses Guimarães. O PSDB se apropriou da imagem, ao dar o nome de Teotônio Vilela ao seu instituto de estudos e formação política, cuja sede, em Maceió, é uma obra com a assinatura de Oscar Niemeyer.

Os mais novos não se lembrarão disto, mas em 1983 os compositores Milton Nascimento e Fernando Brant lançaram, em homenagem a Teotônio, a música "O menestrel das Alagoas", cuja versão cantada por Fafá de Belém se transformaria, assim como "Coração de estudante", em hino da campanha das Diretas-Já (da qual os mais novos também não se lembrarão), movimento que, no início de 1984, exigia que o Congresso aprovasse a emenda constitucional que instituía a eleição direta para o sucessor do presidente João Baptista Figueiredo, o último general da ditadura militar.

Era uma imagem ao mesmo tempo triste e enternecedora, as fotos que conseguiam chegar ao público pelos jornais e tablóides. Dois velhotes (velhote, é assim que me chama um lacaio de um jornaleco local) batendo no grande portão de chapas de ferro de um dos presídios da ditadura, para visitar presos políticos. Para visitar presos torturados - e Teotônio, de joelhos: "Perdão por não ter visto antes essa barbárie."

Pois é, Carlota, o que falta aqui é essa saúde civil, pessoas que não fechem os olhos à barbárie política que tem assolado Ubatuba. Que não sejam de contemporizar com o malfeito, que não aceitem a política miúda, nanica, que tem fortes raízes por aqui. Faltam mais pessoas como você, e falta que essas pessoas se organizem o suficiente para pegar na enxada e arrancar o mais que puderem essas raízes de política nanica. Que pressionem os que elegeram para que façam mudanças, mudem, não só como discurso, mas como ação. Que é, afinal, o que falta em Ubatuba: ação.


Nota do Editor: Elcio Machado (cidadania.e@gmail.com), 60, batizado como Elciobebe, sob as bênçãos e maldições de Cunhambebe, caiçara em construção. Mantém o blog Exercícios de Cidadania (cidadania-e.blogspot.com). Permitida a reprodução, desde que citados a fonte e o endereço eletrônico original.
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