A nação assiste estarrecida as declarações do Presidente da Câmara Federal, Severino Cavalncati, confirmando ter entre seus assistentes e de seus pares quase uma dúzia de parentes, sem contar as locações nas tetas da cansada nação de seus amigos e correligionários. Todos sabemos que esse expediente é usado descaradamente pela grande maioria dos políticos e tanto isso é verdade que recentemente a revista Veja publicou os cargos que as mulheres dos ministros ocupam nos mais variados postos públicos existentes em Brasília, exatamente criados para esses casos. É simples, o ministro tal pede ao ministro colega uma boquinha para sua mulher. Com esse expediente mascara a acusação do nepotismo, ficando por conta do excepcional currículo da madame a complementação do salário familiar. O mesmo fazem com seus valiosíssimos, inteligentíssimos e cultíssimos filhos, cunhados, irmãos, pais e outros do sangue. É a forma mais prática de fazer dinheiro de maneira fácil e sem deixar rastro. Trocam-se favores, apuram-se pecúnia, nem sempre de boa progênie. Mas e o nosso Severino? Já havíamos falado sobre ele, sempre com bastante humor e satisfação por parte do escriba, mesmo porque vejo nele o protótipo do homem público brasileiro, sem pudor, como fala rei à sua corte. É isento de pecado mortal. Todos são veniais, perdoáveis, desculpáveis. Você que não chegou ao poder, que se lasque. Se tivesse chegado, também faria o mesmo. Daí ter dado o título em uma das minhas crônicas de "Severinos de todo o Brasil, uni-vos!". Severino é o símbolo de todos os nossos homens públicos, quer a nível federal, estadual ou municipal, bastando tão somente para a maioria deles assumir esta condição. Esta crônica serve muito bem para a nossa política local. Aqui, pelo andar da carruagem, se existe pouco nepotismo, o mesmo não se pode dizer com relação ao fisiologismo. O Poder Público foi inundado por grupos de uma mesma tribo cujas lideranças ocupam postos chave para garantir a continuação e unificação de ideais nem sempre compatíveis com os interesses sociais, mas certamente centralizados no conceito puro do que possa ser o fisiologismo, a busca de ganhos ou vantagens pessoais, em lugar de ter em vista o interesse público. O interesse público, para ficar bem claro como conceito, é aquele em que todo cidadão deve receber das autoridades constituídas, serviços prestados a altura do posto que ocupa. Para tanto o agente público deve ocupar o cargo exatamente compatível com a sua capacidade laboral, independendo de seu credo ou relacionamento com seus superiores. Dentro dessas condições prévias, presta o exato serviço que é solicitado pelo cidadão comum. Para este conceito básico não existe margem de erro, não existe incompetência, não existe prejuízo ao erário público. Passa a prevalecer o conceito utópico de Platão que nós tanto perseguimos e que certamente nunca alcançaremos.
Nota do Editor: Herbert José de Luna Marques [1939 - 2013], advogado militante em Ubatuba, SP.
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