O noticiário desses últimos tempos está desolador, dando um desânimo em qualquer um que sempre quis ver um país melhor, uma sociedade evoluindo sempre, um povo consciente de sua responsabilidade social. O mundo cão que se instalou no noticiário desanima qualquer um, por mais otimista que possa ser. Quando o Brasil ainda era um país muito atrasado, pós-colônia, e isso não faz muito tempo, esse tipo de bandalha operado pelo executivo e legislativo era um tanto quanto normal, mesmo porque o governo estava na mão de uma elite de políticos de formação familiar, afeitos ao manuseio das coisas públicas como se fosse sua. Raimundo Faoro bem descreveu esse tipo de homem público em sua clássica obra "Os Donos do Poder". No Brasil moderno as coisas passaram a ter maior atuação da sociedade. O brasileiro passou a se inteirar dos atos considerados públicos, passou a participar, a acompanhar seus eleitos e talvez tenha sido essa a grande decepção. Caímos na real. Passamos a ver as coisas que passavam na janela e ninguém havia se preocupado em ver. Quer ver como tenho razão? O país foi tomado pelo PT que por sua vez foi e é um partido formado por pessoas que participaram na época da ditadura, da reação que os tornaram, na grande maioria proscritos pelos detentores do poder à época. O mérito dessas pessoas foi acreditar que poderiam, com seu sacrifício e até seu sangue, criar um país melhor. Se não conseguiram, também não contribuíram para o fim de um período de exceção com nada mais, nada menos, 20 anos de nossa existência. Para quem viveu aquela época sabe que os homens que detém o poder hoje, os homens do PT, não participaram efetivamente da redemocratização do país. Participaram sim da guerra de guerrilha, principalmente urbana, detonando bombas, matando soldados, raptando diplomatas, assaltando bancos. Contudo a redemocratização foi feita por políticos sérios, tipo Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Severo Gomes, Plínio de Arruda Sampaio, Leonel Brizola e tantos outros que mortos ou ainda vivos, deram o rumo que hoje temos de um país solidamente constituído em suas bases democráticas sem a necessidade da prática de nenhum ato de extrema violência. Os nossos dirigentes atuais, na maioria egressos da repressão, tiveram pouca ou nenhuma importância política na redemocratização, mesmo porque somente voltaram ao país após a anistia para reivindicar gorda aposentadoria da qual são hoje beneficiados. Esses homens públicos, capitaneados pelo sindicalista e líder popular Lula, ao assumir o poder trataram de edificar o projeto idealizado no exílio, de montar uma república socialista sobre as bases edificadas por aqueles senhores acima referidos, pessoas sérias e conscientes da realidade e do destino que queriam para seu país. E tal qual as decisões anteriores, tomadas nos esconderijos do terror, de dinamitar prédios ou assaltar bancos com eventuais mortes de quem pretendesse se opor ao ato de terror, o de assalto aos cofres públicos para manutenção de um aparelho que levasse ao projeto idealizado de socialização das massas seria válido. Esta é a razão pela qual fomos tomados de assalto por esse mar de lama.
Nota do Editor: Herbert José de Luna Marques [1939 - 2013], advogado militante em Ubatuba, SP.
|