No dia quatro deste mês de outubro, o rio São Francisco, comemora 504 anos desde que recebeu esse nome profético. Foi a expedição exploradora comandada, segundo os historiadores, por Gaspar de Lemos que, aos quatro de outubro de 1.501, o batizou com esse nome, por se comemorar, na Igreja Católica, já naquela época e até hoje, a festa de São Francisco de Assis. Nestes quinhentos e quatro anos, o Rio São Francisco, foi testemunha viva da História do Brasil e, nessa esteira, denominado: Rio da Unidade Nacional; Rio da Integração Nacional; Nilo Brasileiro; Rio das Carrancas; Velho Chico. Todos os apelidos ou cognominações indicam qualidades e funções do RIO e sugerem carinho das populações ribeirinhas com o "GRANDE PAI DOS SERTÕES" e fornecedor das condições de vida para desenvolver seu trabalho e ganhar o sustento. Para as populações ribeirinhas, igual que o Santo que lhe deu o nome, quinhentos e quatro anos passados, é o protetor da vida, dos seus animais, do meio-ambiente, do ecossistema, dos peixes, das aves, das plantas... Nas suas mentes, o rio São Francisco, não suporta mais as agressões dos políticos inconseqüentes do Nordeste e das sangrias das quais já está sendo vítima, matando, juntamente com o RIO, os seres humanos que dele vivem. Está na UTI, sendo urgente, urgentíssimo preservá-lo e revitalizá-lo. Contrariando essas avaliações e as dos técnicos em hidrografia (não contaminados por interesses políticos ou individuais imediatos e escusos), o Governo Federal pretende fazer a transposição de suas águas para perenizar rios do semi-árido e irrigar áreas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Quais os donos dessas áreas? Deixo para o eventual leitor descobrir. Certamente não serão os SEVERINOS de João Cabral de Mello Neto. São e serão outros SEVERINOS. Os políticos governamentais informam que só será transposto 1% (um por cento) da vazão de RIO, na época da estiagem. Essa balela só pode ser acreditada por otário assumido. Conhecendo nossos políticos e o olho gordo dos donos das terras nem a VELHINHA DE TAUBATÉ (já assassinada pelos escândalos do PT) acreditaria nessa história. A transposição do rio São Francisco tem sido tema recorrente nas aulas de Hidrografia e nos Cursos de Geografia das universidades brasileiras. Já em 1966, no Curso de Geografia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o tema era tratado em seminário que concluiu pela inviabilidade técnica da transposição considerando os longos períodos de estiagem de seu vale, a irregularidade das chuvas, a insolação permanente e a evaporação constante. Posteriormente, técnicos tem advertido para a probabilidade de vir acontecer, com o rio São Francisco, com todo seu vale e também com as áreas para as quais for transposto, catástrofe ecológica semelhante às sofridas nos rios Sir-Dária, Amu-Dária e lago Aral no atual Casaquistão, na Ásia ou no lago Tchad, na África Central. Nessas regiões o esgotamento da água e a salinização das terras obrigaram as populações a emigrarem em massa para outras regiões. No contexto acima a atitude de Dom Luis Flávio Cappio, bispo da Barra, na Bahia, sua defesa incondicional do RIO e sua disposição de morrer de fome e inanição para salvá-lo é um alerta para Presidente Lula e para todos aqueles que não estão ouvindo a voz dos técnicos e do povo ribeirinho. O Sr. Bispo, como filho fiel de São Francisco, conhece o RIO, o sofrimento dos povos ribeirinhos e tem uma visão profética do que vai acontecer com eles e com o RIO se não for atendido seu ato heróico e ouvidas as vozes do povo. Como cristãos, esperamos com fé, que São Francisco, fazendo um novo milagre, neste quatro de outubro, domine os lobos humanos, dos quais falava Hobbes, como dominou o lobo de Gubbio e faça que o Presidente Lula "entenda pelo coração aquilo que a razão não alcança" como lhe suplica, em sua carta, Dom Luis Flávio Cappio, seus humildes fieis, a CNBB, autoridades da Bahia e todos aqueles que consideram uma aventura transpor um rio que tem a maior parte de sua bacia hidrográfica dentro do "Polígono das Secas", vazão irregular e que já está esgotado com seu aproveitamento para a produção de energia e para a irrigação. Unimo-nos a essa legião de homens de bom senso. Nota do Editor: Corsino Aliste Mezquita, ex-secretário de Educação de Ubatuba.
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