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Ano 1 - Nș 0 - Ubatuba, 27 de Outubro de 1.997

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Preguiça, incompetência ou indústria de multas?
José Manuel Casalderrey Áspera
jmca@iconet.com.br

A Rodovia SP-55 que liga Ubatuba a Caraguatatuba, tem se tornado famosa nos últimos tempos pela exagerada proliferação de "obstáculos" e "lombadas", verdadeiros monumentos ao atraso e subdesenvolvimento de um país.
São mais de meia centena de "próteses" no trecho de aproximadamente 45 km que separa as duas cidades , tornando um suplício o verdadeiro teste de paciência a que se submetem tanto os turistas quanto os que, por profissão ou necessidade, por ali transitam várias vezes por dia.
Mas o que ora se aborda é a sinalização horizontal conhecida como linha dupla contínua que aleatoriamente foi pintada na rodovia, impedindo qualquer ultrapassagem mesmo onde existem retas com mais de 1 km de comprimento, como por exemplo ocorre na Praia Grande e Toninhas, para citar apenas duas das mais próximas à cidade de Ubatuba.

Trecho central da Praia Grande, em Ubatuba

Basta um veículo lento na rodovia para que se forme a interminável "caravana" de automóveis obrigada a permanecer rigorosamente obediente à arbitrária sinalização, sem chances de ultrapassar pena de cometer uma grave infração.
Já os menos pacientes, comprovando após alguns quilômetros a inapropriada sinalização, resolvem, freqüentemente, arriscar a sorte invadindo a faixa contrária em locais sem a devida visibilidade, provocando gravíssimos acidentes.
Na sinalização anteriormente pintada, linhas contínuas eram alternadas com seccionadas, propiciando realizar tais manobras sem riscos, especialmente quando o trânsito assim o permitia.
Atualmente, mesmo com a estrada deserta, o bom motorista será forçado a permanecer por vários quilômetros na traseira de qualquer máquina de terraplanagem que se encontre à sua frente para não infringir a lei invadindo a linha dupla contínua. (...)
Não se vislumbra uma explicação lógica para a arbitrária sinalização atual, arriscando-se três hipóteses para o fato: preguiça dos pintores , incompetência de quem orientou a pintura sem observar as devidas técnicas, ou incentivo à denominada indústria de multas.
A preguiça dos pintores decorreria da comodidade de deixarem de lado as medições dos técnicos pintando tudo com linha dupla para acabar logo o serviço. (?)
A incompetência seria de quem orientou a sinalização sem prever pontos que possibilitem a ultrapassagem de veículos lentos, tornando proibido o que poderia ser permitido dentro das cautelas previstas em lei.
De fato, é cediço que em plena temporada com o movimento de turistas que afluem ao litoral, uma ultrapassagem em qualquer ponto dessas retas seria impraticável sem oferecer graves riscos aos motoristas que circulam em sentido inverso.
Tal situação é prevista, entretanto, com a linha dupla contínua de um lado e seccionada de outro, impedindo, da mesma forma, a ultrapassagem quando do lado oposto à seccionada transita outro veículo.
Bastaria, assim, dividir esses trechos de retas com linhas de divisão duplas contínuas/seccionadas para permitir, quando a estrada está totalmente deserta, a simples e segura ultrapassagem de um veículo lento sem infringir a lei.
Para prevenir possíveis acidentes por ocasião do movimento sazonal de turistas, a sinalização ora sugerida seria suficiente e eficaz, bastando a fiscalização efetiva para obter-se um melhor resultado final.
Por derradeiro, o incentivo à indústria de multas decorre da cômoda forma de punir quem avança nas linhas contínuas dessas retas, mesmo quando, com toda a prudência, faz a ultrapassagem de um veículo lento à sua frente.
Infalivelmente estará no fim desses trechos um policial aguardando o "infrator" para aplicar-lhe a correspondente multa, agravada agora com o recém sancionado Código Nacional de Trânsito, Lei 9.503/97, em vigor a partir do próximo ano.
Com a municipalização da fiscalização do trânsito, em boa hora implantada pelo novo Código, será mais fácil impor o cumprimento da sinalização adequada.
A proibição injusta provoca a falta de credibilidade na sinalização flagrantemente inapropriada, propiciando a revolta até mesmo dos mais cautelosos motoristas que passam perigosamente a desrespeitá-la.
Cumpre assim, sem prejuízo da redução drástica dos obstáculos, tomarem as autoridades competentes a iniciativa de revisar, com urgência, a sinalização horizontal dessa estrada tornando menos tormentoso o dia-a-dia dos que por ela transitam.Fim do texto.

Atheneu, Teatro, Cinema, Praia...
Herbert José de Luna Marques
hmarques@iconet.com.br

Para os poucos que ainda estão vivos, aquela noite de dezembro de 1.957 marcada pela inauguração do Cine Iperoig ficou na história da cidade. Um luminoso vermelho e verde indicava o nome da casa de espetáculos e cartazes não menos coloridos

anunciavam O Corcunda de Notre Dame.
Sem sombra de dúvidas, era o orgulho da cidade aquele enorme salão decorado com afrescos onde destacavam imagens de caiçaras em canoas a jogar tarrafa, como também eram as duas bilheterias sempre cheias para conhecerem a nova maravilha ubatubense.
Superado pelo tempo, abafado pelo progresso, tomado pelas pulgas, o espetáculo mudou de rumo e de dono. A casa de diversão mundana passou para templo de almas. O Corcunda e seus sucessores deram lugar às almas aflitas que buscam nas casas de orações, cultos e outros expedientes, a amenidade da vida, a garantia da bem-aventurança na eternidade.
Alias, no início do século a população deve ter passado pela mesma decepção quando do fechamento do Atheneu Ubatubense, casa de cultura localizada na mesma praça e que se destinava a divulgar jornais por ela editado, reuniões culturais e saraus.
Seu prédio ficou abandonado por muitos anos, sendo deteriorado pelo tempo e acabando por cair, dando lugar nos dias de hoje à Casa Paroquial.
Outra casa cultural foi destruída, desta feita para dar lugar a construção do prédio do Fórum. Antigo teatro, foi reformado pelos idos de 1.950 para dar lugar ao primeiro cinema da cidade. Já naquela época a reforma da casa de espetáculos havia desfigurado completamente a arquitetura original, perdendo-se assim, um recinto cultural em nome do progresso.
Para quem está lendo este texto e não conhece Ubatuba, há de imaginar tratar-se de uma cidade que não tem muita disposição em preservar patrimônios culturais.
Na realidade essa assertiva, se não é verdadeira, aproxima-se muito da realidade, visto que, quando do fechamento do atual cinema para dar lugar a uma igreja, algum movimento foi iniciado para impedir esse evento, certamente não dando em nada como os demais. Afinal, quem tem esse mundaréu de praias, não precisa de centros culturais, mesmo porque, Anchieta para escrever seu poema à Virgem, dizem com cinco mil versos, não precisou de nenhuma biblioteca, ou mesmo uma escrivaninha. Somente uma simples vara de caniço e provavelmente uma tremenda dor nas costas. O resto, a areia da praia, alva e lisa e a excelente memória do missionário deram conta do recado, não precisa dizer que o ingrediente principal estava na cabeça do quase santo.
Em homenagem a ele e sua obra cultural, resolveram fazer uma estátua, diga-se de passagem de péssimo mau gosto e de horrível material e acabamento. Na mão do Santo, uma vara indicando a construção de sua obra literária. Sabe o que fizeram? Levaram sua vara embora, certamente de souvenir, ficando tão somente a figura tosca e mal acabada de alguém que deixou uma história tão bonita para ser contada.
Se o Beato quiser refazer sua obra, ou mesmo criar outra, que o faça no céu. A praia também foi fechada para ele, ou reformada para outras finalidades menos nobres.Fim do texto.
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