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Ano 1 - Nº 13 - Ubatuba, 18 de Outubro de 1998
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· No melhor dos mundos
    Roberto de Mamede Costa Leite
    mamede@iconet.com.br

Notícia do Vale Paraibano, de 01/10/98, afirma que, das quatro Prefeituras do Litoral Norte, três enviaram proposta de orçamento em 'quantum' menor que o do ano corrente.

Uma única Prefeitura - adivinhem qual -, que tudo indica estar além de nossa humana condição de dificuldades, elevou sua proposta de orçamento.

Para os basbaques do lugar comum, o olímpico alcaide declarou que sua administração tinha otimizado a arrecadação.

Desta forma, para o surpreendente dirigente, não se tinha que reduzir o orçamento em 1999, - ano que se prenuncia bicudo para todos -, às limitações dos demais incompetentes, inclusive Caraguatatuba...

Pasmem, os bissextos leitores, que o ferrabrás da notícia (papel aceita tudo) era, nem mais nem menos, o Sr. Euclides Luiz Vigneron, também conhecido, impopularmente, como Zizinho.

Não importaria a mesquinha observação de que esteja em atraso com todos seus credores, inclusive com os da cantina do Município, devendo, entre tantos outros produtos que consome, prosaicas verduras, carne e cereais.

Este campeão da incoerência diz que no presente ano otimizou sua arrecadação e que ela nunca foi tão grande.

Desta forma, alegrem-se os energúmenos funcionários, que têm seus salários pagos com atraso, com a oportunidade de carrear, para o fluxo mensal de caixa dos bancos e de agiotas, dinheiro de juros com empréstimos, cheques especiais e cartões (para os que ainda os tem) de crédito.

Isto sem falar daqueles privados de imaginação e bom gosto, que vão aos seus trabalhos impregnados do nauseabundo cheiro da gordura das coxinhas e empadinhas, com cujo mesquinho comércio procuram atender às repugnantes necessidades de pão e leite de seus filhos, no fim do mês ou depois da data em que, em tempos menos civilizados e inventivos, recebiam, pontualmente, seus ordenados e/ou vencimentos.

Como ousarem estes míseros credores opor a tão digno 'condottieri' as indignas limitações de suas humanas necessidades de comer, beber, dormir e pagar suas dívidas, pontualmente?

Eta gente sem imaginação.
Com certeza absoluta de suas excelsas motivações, pensa o magnífico homem público:

'que morram meus inadaptados credores e eleitores, bem como seus dependentes, filhos e/ou mulheres, de fome, de sede ou, ainda, de vergonha perante seus credores; o que importa é que se salvem meus obscuros e insanos desígnios'.

O - a boca pequena - execrado líder, absolutamente certo de que não é compreendido por seus famélicos e horrorizados munícipes, vai em seu delírio megalômano, olhando para o imaginário horizonte.

Vez por outra quando, inadvertidamente, desvia seu percuciente olhar das alturas, tem vislumbres e, então, enxerga e vê:

em cada desesperada professorinha inadimplente, uma marajá do ensino;

em cada modesto gari, credor de salários atrasados, um sindicalista com torpes motivações, principalmente quando este sonha, em voz alta, o desejo de receber seus vencimentos, na velha, devida, legal e segura data do vencimento.
E, sofridamente, este augusto personagem, acima do bem e do mal, pensa (?), nestes momentos de amargura, na incompreensão desta turba desassociada de seus sublimes sonhos:

quantos percalços tem que atravessar um idealista que, para concretizar seus íntimos e impublicáveis sonhos diretivos não cumpriu, mas com todo respeito e justificativa, suas promessas eleitorais.

Será que estes pedintes, que não alcançam minha grandeza e divino direito de descompromisso com as necessidades humanas, esperam que eu cumpra minhas promessas, esquecendo que para iluminados como eu estas coisas não valem?

Será que eles desconhecem que os fins justificam os meios?

Em bom português, como explicar para esta gentinha que eu tudo posso?

Como dizer que eu, como o Quixote na opereta, tenho como objetivo:

"Dream an impossible dream (Sonhar um sonho impossível)".

Se isto custa atraso da comunidade, empobrecimento geral e linear de toda sociedade ubatubense, sujeira nas ruas, insatisfação dos funcionários, esvaziamento dos turistas que ainda teimam em aqui vir, execração dos eleitores traídos, falência do comércio, rompimento da palavra empenhada, traição aos objetivos propostos na campanha, negócios desnecessários, ilegais e nebulosos com dinheiros públicos, feitos por pessoas por mim encarregadas e que não resistem ao mais superficial olhar, tudo isso não deve e não pode ser condenado.

Por exemplo, as três fotos, tiradas sábado cedo, dia 03/10/98 p. p., juntas à matéria, reproduzem o 'jeito de administrar' dos 'novos caminhos/velhos atalhos':

FOTO 1 - flores do calçadão que minha (des)administração oferece aos turistas. Aos que não sofrerem de estupidez córnea, as 'flores' nada mais serão que... lixo empilhado no banco, em torno de uma floreira;

FOTO 2 - ambiente de repouso que me cabe fornecer e que o turista procura. Para os adeptos da realidade, são beliches no calçadão, aparelhados de horríveis, coloridos e prosaicos colchões;

FOTO 3 - visual agradável e idílico do calçadão para o turista. Não se deve levar em conta que na ótica ontológica, o visual tenha a forma de exposição e oficina de consertos de loja de móveis.

Finalizando, quero pedir desculpas aos eventuais leitores da forma, por vezes, rebuscada e interpolada com que escrevinhei o acima: é que certos assuntos devem ser cercados, por sua natureza intrínseca, de medidas de segurança que nos protejam de seus nauseabundos e perigosos eflúvios.

Quero, por derradeiro, tentar dar forma pseudo filosófica literária aos desvairos que aqui vimos constatando e sentindo no lombo e imaginar que, em priscas eras, tenha este destrutivo Nero caiçara lido 'OS IRMÃOS KARAMAZOV', de TOLSTOI e, como um dos personagens, concluído:

Nós, espíritos superiores, elite acima das leis e do senso comum, habitantes de rarefeito olímpo, descobrimos que se Deus não existe, tudo é permitido.Fim do texto.

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