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Ano 1 - Nº 13 - Ubatuba, 18 de Outubro de 1998
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· Feliz Aniversário Ubatuba, UbaWeb
    Aládio Teixeira Leite Filho
    articulista@ubaweb.com

Vista Aérea do Centro da Cidade - Foto: © Fernando Marques

No princípio apenas uma selva incrustada no mais lindo litoral, habitada por um povo que por seu território se deslocava livremente, tostados pelos raios do sol, tinham a pele da cor do cobre, caçavam, pescavam e suas mulheres cuidavam da agricultura, acreditavam respeitosamente em Tupã e para ele dirigiam suas preces e cantos, enfeitavam-se para suas danças religiosas e principalmente cuidavam para que a terra gentil jamais fosse agredida, vilipendiada; não cuspiam nas águas cristalinas de seus rios pois tinham a plena consciência de que, para suas vidas a manutenção da pureza da água era de importância vital.

Mas um dia nóis nem pode se alembrar, tal qual na música de Adoniram Barbosa, no horizonte surgiram naus que traziam homens da cor da claridade da manhã, vestidos esquisitamente, tinham barbas e balbuciavam algo incompreensível para o povo nativo, no primeiro contato foram gentis, trouxeram presentes, suas crenças e tomaram posse da nova terra a qual diziam ter descoberto e, logo a transformaram numa colcha de retalhos, cada um ficou com parte do novo território, e então, quiseram escravizar os índios e já não eram tão amigos.
Índio devido a sua própria natureza, não aceita confinamento, escravidão, se rebelaram, lutaram e em seu processo de resistência até aliaram-se a outros brancos... A terra virgem de todo o território brasileiro em muitas oportunidades foi irrigada pelo sangue puro de nossos bravos silvícolas e no que tange a Ubatuba, não foi diferente e em vários momentos de nossa história nossa cidade foi palco de grandes e importantes acontecimentos que, inclusive, serviram para mudar os destinos desta pátria amada tão querida e ao mesmo tempo tão violentada pelos mesquinhos interesses dos que só pensam no vil metal, já que somos colonizados e recolonizados por reiteradas vezes. Foi na terra de Cunhambebe que o missionário José de Anchieta, aguardou na condição de refém as negociações do armistício registrado na história do Brasil, como Paz de Iperoig, e que, punha fim aos conflitos entre tupinambás e portugueses, (Cunhambebe e seus guerreiros acreditaram na boa fé dos acordos. Os vários chefes com seus homens se dispersaram, se desarmaram e voltaram para suas tribos, e até hoje se comemora a Paz de Yperoig como uma data importante que garantiu a unidade do Brasil contra as ameaças de divisão, graças ao trabalho de catequese e união promovido por Anchieta, Nóbrega e seus companheiros. Mas a história não comenta que logo depois de terem se desarmado e se dispersado os índios foram massacrados pelos rudes e estúpidos colonizadores portugueses interessados no ouro. Renato Nunes/cronista - Jornal "A Cidade", Domingo, 23 de agosto de 1998.) época em que o jesuíta José de Anchieta, enquanto aguardava as negociações entre o Padre José da Nobréga, representante dos portugueses e tupinambás, escreveu o célebre poema à Virgem Maria. Neste solo sagrado também ficou cativo Hans Staden, que posteriormente relataria em um livro editado na Alemanha, a aventura que quase lhe custou a vida, pois por um triz não foi degustado pelos índios que aqui habitavam.

O tempo inexoravelmente avançou e os índios praticamente foram erradicados pelos reiterados genocídios promovidos pelos caras pálidas.

Bem mais tarde, em outra fase de nossa rica história, uns poucos caiçaras passaram longos períodos vivendo isolados, a sós com sua fé, e aí, um boom progressista ocorreu para nossa pequena vila, com o avanço do ouro verde que rapidamente estendeu-se sobre todo Vale do Paraíba, tornando várias cidades desta Região, muito ricas do dia para a noite.
Todo o café do Vale do Paraíba, começou a descer a serra em lombos de burros para serem escoados pelo porto de Ubatuba. Por dois ou três anos consecutivos nossa cidade chegou a ostentar produto interno bruto, PIB, maior que o da própria capital. Em virtude da necessidade de se criar mecanismos de escoação do café produzido no Vale do Paraíba de forma mais rápida e em maiores proporções ensaiou-se a construção de uma estrada de ferro que acabou só ficando no projeto, pois pressões políticas acabaram levando a estrada de ferro para Santos e Ubatuba em decorrência destes acontecimentos novamente entra em declínio, rapidamente voltando a condição de pequena e sonolenta vilinha esquecida próxima a Serra do Mar e a apenas três metros acima do nível do mar.

Morfeu novamente estende seus longos braços e embala Ubatuba em seu longo repouso em berço esplêndido, contudo o sono que de Ubatuba se apossou, era um sono gostoso, leve e sem pesadelos; é bem verdade que o caiçara não contava com nenhum tipo de sofisticação que, então já começava a ser proporcionado pelo ainda insipiente avanço tecnológico, mas em sua simplicidade passava um vidão, pois a pesca era abundante, a mãe terra lhes era extremamente pródiga, e tudo o que plantava nascia em grande quantidade, nas noites de céu enluarado tocava sua viola e alegremente cantava canções que varavam noites calmas, não esperavam ônibus ou cartas e tão pouco sonhavam com o plim! plim! global, que hoje bombardeia nossas cabeças através de potentes satélites, temiam a mula sem cabeça, lobisomens e assombrações, curavam-se com rezas e ervas, não eram escravos nem do relógio nem do dinheiro, eram homens livres, sempre livres...

Lá por volta de 1930 o primeiro carro de um tal de seu Miranda, atravessou triunfalmente ruas poeirentas, diante de uma população atônita e amedrontada, inaugurando assim, uma nova era econômica para nossa Ubatuba.

Foi construída a velha e tortuosa estrada Oswaldo Cruz, e o turismo passou então a ser o carro chefe e a impulsionar o entre aspas progresso da pequena cidade. Novas casas foram sendo construídas, centenárias e históricas casas criminosamente derrubadas, nossa identidade sendo apagada e rapidamente muito pouco de nossa cultura e tradição sobrando pois, substituíram as amplas casas de imensas janelas e portas por casas escuras e apartamentos em forma de caixa que, nos proíbem cada vez mais, a linda paisagem que outrora de nossas antigas janelas, sem o mínimo esforço, se podia avistar.

361 anos e nunca a cidade sentiu tanto o peso dos anos, como nessas últimas décadas; suas florestas arrasadas, levando de roldão também sua rica fauna, os pássaros como por obra de um mal fadado encanto silenciaram e sua maravilhosa orquestra, foi substituída pelo mal gosto sonoro do ronco de motores de carros e motos envenenadas. Os poucos rios que restaram identicamente a inúmeras praias agonizam face ao volume cada vez mais crescente de efluentes domésticos, bairros inchados sem infra-estrutura e, de forma desconfortante acolhem populações pobres, que não vivem apenas agüentam... Mas o caiçara sempre foi movido pela fé, em vários períodos passamos por fases ruins e superamos, principalmente nos acende ainda mais a chama da esperança quando vemos no fronte de nossa boa luta, caiçaras como um Luiz Roberto de Moura, Eduardo Antonio de Souza Netto que, com talento, amor a cidade se dispõem de forma desprendida a realizar um projeto da magnitude da revista UbaWeb, funcionando de forma ultra eficiente no sentido da divulgação de nossa cidade, no que se refere aos seus mais variados aspectos: belezas naturais, culinária, história, geografia, meteorologia, causos, música, literatura, folclore, artes plásticas... e, principalmente criando um espaço virtual para muitos caiçaras navegarem esta infomaré e terem a chance de mostrar seu trabalho via Internet. Parabéns Ubatuba e parabéns UbaWeb que, juntos temos a firme certeza, haverão de cumprir seu destino; este, totalmente comprometido com a flama do desenvolvimento, do sucesso e da felicidade para o bem dos sempre nobres, valentes e esperançosos corações caiçaras que, mesmo sofridos jamais perderão a ternura... Ubatuba amar é...Fim do texto.

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