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Ano 2 - Nº 14 - Ubatuba, 15 de Novembro de 1998 |
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· Levanta, Ubatuba! Eduardo Antonio de Souza Netto articulista@ubaweb.com
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A situação, hoje, agravada por esta crise mundial, por esta recessão que pune grande parcela da população e a obriga a se ater ao estritamente necessário, abstendo-se de gastos supérfluos como, p. ex., as viagens turísticas, deixa-nos em maus lençóis. Na verdade, o município vem sofrendo, nos últimos vinte anos, um acelerado processo de declínio econômico. Este processo foi e continua sendo o resultado de diversos fatores. A migração absurda de pessoas provenientes de regiões em processo de depauperação do sul de Minas e de outras localidades circunvizinhas, atraídas pelo então mercado ascendente da construção civil, do envolvimento exclusivo do município, direta ou indiretamente, com o turismo em detrimento das outras atividades econômicas nativas e o não incentivo para que se desenvolvessem outras vocações. É significativo também o descaso dos sucessivos governadores do Estado para com o Litoral Norte. É como se São Paulo, ao contrário de outros Estados, os do Nordeste principalmente, não visse e não veja o que representa o turismo na economia mundial. As parcas receitas da Prefeitura (80% provenientes do IPTU) para fazer frente à demanda de serviços públicos, agravados nas temporadas, feriados e fins de semana prolongados, impediram e impedem o município de investir em infra-estrutura e na melhoria dos equipamentos urbanos e, principalmente, nas questões relacionadas à saúde e educação.
Nesse contexto, o projeto da maioria das pessoas era (e continua sendo) o de ganhar o dinheiro dos turistas de qualquer jeito, a qualquer preço. Aumentou-se de forma descomedida e desordenada a oferta de serviços, constituíram-se incontáveis pequenos negócios, bares, restaurantes, quiosques, barraquinhas, a quantidade em prejuízo da qualidade dos serviços, e os que não dispunham de capital para aumentar a renda familiar partiram para a venda ambulante de tudo quanto é espécie de produtos. Em determinado momento, o antigo turista, aquele que descobrira Ubatuba como um lugar para o descanso, para a contemplação, para ter sossego, viu-se às voltas com uma horda de "curtidores de praia", que adoram um churrasquinho, Xitãozinho e Xororó e narrador de rodeio em altíssimo volume no sonzão do automóvel e que traz até o sorvete na bagagem. Esse "novo turista" espantou o antigo que, por sua vez, descobriu outras paragens mais civilizadas ou menos idiota e, agora, com toda essa crise financeira, nem mesmo esse turista de massa, brega, interiorano, vem mais.
A cidade está no vermelho. Os governos federal e estadual só demonstram preocupação com a tal preservação ambiental, não movendo uma palha sequer para proporcionar melhores condições de vida à população nativa. Toda a recente legislação ambiental é negativa, preconiza que o homem local deva ser um mero espectador, um ser contemplativo do bucólico, amante da natureza e se alimentado da brisa marinha. Aquela conversa de desenvolvimento auto-sustentado é só pra inglês ver. Como os ambientalistas esperam que a população local respeite e se empenhe nas questões ambientais se estas questões para ele não tem valor positivo? A questão ambiental deveria estar associada a outros projetos de desenvolvimento da região. Projetos que fossem entendidos, aceitos e que contassem com o compromisso da população, que gerassem valores dignos de serem respeitados e defendidos por todos. Valores que contemplassem primeiramente o homem e a natureza como pano de fundo necessário de uma existência digna e não o contrário. Toda simbologia ambientalista tem em Ubatuba um significado de entrave, de desemprego, de aflição. Não se pode arrancar um arbusto, não se pode plantar uma rama de mandioca sem incorrer em crime ambiental! Oitenta por cento das áreas do município são praticamente intocáveis, inviáveis para o nativo continuar vivendo e tirando da terra e do mar a subsistência! Que ação compensatória foi dada a essa população? Sabemos o papel que a Mata Atlântica representa no âmbito nacional e internacional, mas qual é o papel da população que vive na região? Apenas de pagar a fatura? Qual é o nosso papel? O de guardiães de barriga vazia dos Jardins do Éden ou do que dele sobrou? Dizem que a cabeça é apenas o estômago consciente, daí...
Este é um triste retrato da minha Ubatuba, tão perto da riqueza e de chapéu na mão, agonizante em seu novo ciclo de decadência. Talvez tiremos disso tudo um aprendizado. Quem sabe, em 2037, no quarto centenário do município, São Paulo e o Brasil queiram olhar um pouco por nós. Enquanto isso, parabéns Ubatuba. pelos seus 361 aninhos.
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Ano 2 - Nº 14 - Ubatuba, 15 de Novembro de 1998 |
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