· A inteligência de um editor
Herbert Marques
hmarques@iconet.com.br
Intitular o Ryoki Inoue de inteligente é pleonasmo legítimo por se tratar de um dos escritores mais festejados de nosso pais. E por que festejado? Porque são poucas as pessoas que ainda não leram uma de suas obras, aqueles livrinhos de bolso que o caubói sempre ganhava a mocinha e o bandido terminava com um tiro na goela, nas grades da prisão ou dependurado numa forca improvisada no tronco de uma retorcida árvore, que ele magistralmente escreveu bem mais de um milheiro, tendo hoje seu nome no famoso Guinness.
Literatura vulgar? Inexpressiva? Se alguém pensou ou pensa assim é porque não conhece esse intelectual de tão avançado tirocínio e tão lúcida proposta de divulgação da cultura nacional.
Na década de oitenta o diário Notícias Populares, editado até hoje pela Empresa Folha da Manhã, manteve o recorde da vendagem de jornal para a capital de São Paulo em 280 mil exemplares, número não alcançado à época pela própria Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. Ibhraim, seu editor e professor de comunicações da Faculdade de Jornalismo de Santos, fazia questão de redigir pessoalmente as principais manchetes por entender serem elas o veículo principal para fazer chegar até as pessoas humildes e pouco letradas, o jornalismo simples e na maioria das vezes sensacionalista, mas que não deixava de ser importante, porque era através delas que se fazia chegar àquela gama social, informações atuais ou subliminares de outras matérias muito mais importantes que o sensacionalismo a que aparentemente se propunha. Por ser aquele jornal a única leitura do nordestino empregado na construção civil, era a forma mais inteligente que o Ibhraim achava para introduzir o hábito de ler naquelas pessoas cuja leitura, em sua terra, não passava de textos primários e próprios para a alfabetização, geralmente transcritos por professoras leigas e sem os mínimos recursos, sejam materiais ou técnicos para um melhor trabalho. Em síntese, a cultura popular através do pasquim, era o que ele fazia com primor.
Nos inúmeros e intermináveis papos que tive e tenho com o Ryoki, confesso não tê-lo abordado sobre a verdadeira intenção que tinha quando sentava em sua máquina de escrever e redigia um daqueles livrinhos que tanto li, mas tenho certeza que tinha um objetivo além da diversão pela diversão, arriscando mesmo a dizer que seria mais ou menos a implantação de uma fase preparatória ao brilhante trabalho que está realizando agora.
Ryoki produz literatura com cunho de nacionalismo em plena era da globalização, palavra melhor empregada para a atividade macroeconômica mas por que não, também a nível de cultura. Divulga a feitura do livro regional. O livro que deve ser escrito por aquele sonhador que passou toda a sua vida a pensar em um dia ser escritor, mesmo que fosse para ser lido tão somente pelos seus amigos, parentes e afins. Ou daquele cultivador do folclore urbano que se tornou um repertório vivo de intermináveis histórias, muita das vezes de cunho hilariante e prazeroso para o leitor. Defende a tese de que ler é um prazer que deve ser desatrelado da formação intelectual acadêmica propriamente dita, embora necessite do que se considera o mais importante para a sua prática, a vontade e o hábito de ler.
Ao escrever seus livrinhos de bolso, Ryoki estava estimulando a vontade de ler e hoje, sabiamente, estimula a vontade de escrever. Partilha, com seu intelecto, o desenvolvimento da literatura com tantas pessoas quantas queiram partilhar, independentemente do grau de conhecimento do leitor-escritor, dando a este a possibilidade de despertar o gigante que possivelmente possa estar adormecido no seu inconsciente. Estimula o vôo da criação sem as peias do formalismo, o que a pintura já faz há muito e a música segue os mesmos passos. Dá um novo rumo a uma das mais belas artes praticadas pelo ser humano. A comunicação pela escrita. Vale a pena conhecer Ryoki. 
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· Hajam Luas
Ricardo Yazigi
ryazigi@iconet.com.br
Se um chinês subisse em cima do outro, formaria uma montanha humana com comprimento de quatro vezes e meia a distância da Terra à Lua. Nosso pequeno planeta atingiu seu primeiro bilhão de habitantes lá pelos idos de 1.830, seu segundo bilhão veio 100 anos depois, para atingir o terceiro bilhão a humanidade só levou 33 anos. Agora, para alcançar esta marca bilionária é necessário o irrisório espaço de tempo de dez anos. É mais gente do que nossa franca ignorância possa contemplar. A conseqüência deste violento aumento populacional desordenado e sem precedentes não poderia ser diferente; a mãe natureza está brava com a malcriação e está devolvendo com surras e castigos.
Se fizermos uma conta rápida nosso espanto se espantará ainda mais. Para que uma pessoa exista hoje, foram necessárias duas pessoas para concebê-la; para gerar seus pais foram necessários os quatro avós. Vamos admitir que uma geração dure em média 25 anos - levando-se em consideração que antigamente a expectativa de vida era baixa além de diversos outros fatores - então, da era cristã até o ano dois mil terão passado 80 gerações. Ora, para a existência de uma única pessoa no ano dois mil foram necessárias 2x2x2..., setenta e nove vezes. Explicando: como para cada pessoa ser concebida precisa-se de duas, a cada geração vai dobrando o número de pessoas para gerar a primeira; na primeira geração tinha duas pessoas (os pais), na segunda, quatro (os avós), na terceira oito (os bisavós) e assim por diante. Portanto, para gerar uma única pessoa hoje, desde a época cristã, foram necessárias 279 pessoas (dois significa duas pessoas necessárias para gerar uma e 79 é o número de gerações do ano zero até o ano dois mil, menos a última geração).
Só para se ter uma idéia deste monstruoso número, se todas estas pessoas existissem simultaneamente seriam necessários bilhões de planetas iguais ao nosso para alojar tanta gente. É claro que este número não considera as mortes, casamentos consangüíneos, casais sem filhos etc. E é graças a estes fatores que a situação ainda não é tão caótica. Mas que assusta, assusta. A intenção do raciocínio acima é apenas o de esclarecer como a população mundial pode atingir um número insustentável caso não haja controle algum. É impossível abrigar tanta gente no ventre da mãe natureza, nem coração de mãe suportaria tanto filho.
O perigo de um crescimento populacional desconsertado, deverá ser encarado de imediato, antes que seja tarde demais, pois caso isto não ocorra, não haverá culatra para sair tanta gente e nem Lua para abrigar tanto chinês. 
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