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Ano 2 - Nº 15 - Ubatuba, 20 de Dezembro de 1998
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· Fugit irreparabile tempus
    Eduardo Antonio de Souza Netto
    articulista@ubaweb.com

Quando eu queria pescar no fim de semana perguntava a meu pai sobre o tempo. O velho, que já havia perscrutado os horizontes logo depois que despertava, respondia: - O tempo tá firme. Tá lestando. Lua cheia, a maré está enchendo do meio-dia para a tarde. Era tiro e queda. Aos poucos fui aprendendo com ele o comportamento, as nuanças meteorológicas, as influências da lua, dos ventos, das marés etc. Ainda hoje tenho a mania de olhar para o pico do morro do Corcovado ou na direção da ilha Anchieta para ver a conformação das nuvens nesses locais. Como se adiantasse... Sãos outros os tempos...
O ano vai chegando ao fim. Continua chovendo. Desde agosto, se não me engano. Parece uma eternidade. O sol deu as caras outro dia, parecia que vinha para ficar. O dia acordou de andorinhas, o céu de brigadeiro e a gente parecia que tinha asas. A alegria do contraste: de repente, após uma sucessão monótona, medíocre de dias cinzentos... o sol! No entanto, continua chovendo, chuvinha fina e chata. El Niño, La Niña, camada de ozônio, desmatamentos? Quem sabe? Só sei que se continuar por muito tempo, acabaremos com guelras...
O Natal está próximo. Hoje comprei uma dessas arvorezinhas de Natal. Isso porque tenho um filho pequeno e é também uma forma de ter bem próxima a lembrança de papai. Na infância, em nossa casa, o Natal era mais esperado que o Ano Novo. Papai trazia da capital, em suas esporádicas viagens, além dos presentes, os enfeites para a Árvore de Natal que ele adorava confeccionar. Uma ocasião, fez um presépio lindo de morrer.
Um Natal que não me esqueço foi aquele em que uma visita inesperada bateu à porta de casa, no comecinho da noite, enquanto estávamos reunidos na sala de jantar, fazendo os preparativos da festa. Fui atender e, ao abri-la, dei de cara com o velho Padula, bêbado, maltrapilho, sujo e fedendo: - O Maneco está?... Falou-me com a língua enrolada e a voz rouca. Fiquei atônito e senti raiva e asco. Disse-lhe rispidamente que não tinha dinheiro e que meu pai não estava em casa e, quando já ia lhe fechando a porta na cara, ele replicou: - Não... meu filho... eu só vim para desejar ao Maneco e a vocês todos um Feliz Natal!... Virou-se e saiu trôpego pela calçada em direção à praia do Cruzeiro. Fiquei ali na porta, olhando para o nada, para o vazio que senti dentro e diante de mim, por um tempo que parecia a eternidade, até que mamãe perguntou-me quem era, quem estava à porta, e eu só pude dizer: - Ninguém, mãe, era só um bêbado pedindo esmola.
Naqueles tempos de adolescência eu não conhecia direito o Padula. Só mais tarde fiquei sabendo melhor de sua vida, das poesias que escrevia (vide ao lado) nos balcões dos bares, em papel de embrulho. Mas esta é uma outra história para ser contada em outra ocasião.
Este ano não foi nada fácil! Mais para refletir, agora que chega ao fim, do que para a euforia e o regalo com os acepipes. Ano de algumas despedidas definitivas, de muitas dores. A minha cidade perdeu bastante de sua alegria, o Brasil anda rabugento e o mundo, enfastiado. Talvez esteja gestando tempos menos fugazes para o próximo milênio.Fim do texto.
· Ao Antonio José Fragoso,
  a homenagem do autor

    Antonio Padula
    articulista@ubaweb.com

Questão de gosto em amor,
É coisa que não se discute:
Por que devo amar Leonor
Se não me esqueço de Ruth?

Pra mim a dura calçada
Tem a maciez do veludo
Eu já não sofro de nada
De tanto sofrer de tudo.

Evolui a cirurgia,
Todavia a gente sonha
De poder ver algum dia
O transplante da vergonha.

É com o cigarro na boca que costumo
Fazer balanço do que fiz no dia...
Este cigarro que absorto fumo,
É o melhor tomo de filosofia!

Cigarros e cigarros eu consumo
Pensando no que fiz, no que faria:
Eles me ditam o melhor rumo,
Eles me dão fumaças de alegria.

Toninho, se acaso um dia tu pensares
No fumo que é toda uma ilusão,
E tua vida ao cigarro comparares...
Acharás bem fiel comparação!
Na fumaça que sobe pelos ares
E nas cinzas que rolam pelo chão.Fim do texto.

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