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COLUNISTA
Mateus Modesto
16/01/2009 - 13h09
A Velha
 
 

Ela foi uma síndica inesquecível. Não apenas pelo zelo dado ao prédio, mas pelas inúmeras discussões criadas com os condôminos – não que estivesse errada, porém, o bom-senso poderia prevalecer em alguns momentos. E, mesmo depois de terminado seus anos de poderio, continuou por exercer a função.

Ela possuía um olho em cada canto do prédio. Desde a garagem ao último andar. Carro mal estacionado, toalha na janela, criança no parquinho, visitante durante a noite, namoro no playground. Todos eram observados. E advertidos. Inclusive o síndico, o qual passou, meramente, a assinar avisos redigidos por ela. Até reunião de condomínio era convocada pela ilustre e memorável Dona Miranda: a Velha.

Os meninos não conversavam no elevador ou no playground, quiçá na garagem. As meninas ficavam em casa namorando. As crianças, do mesmo modo, só que brincando. A doce vida no prédio Dom Genebaldo estava ameaçada. Pensava-se em restituir-lhe o cargo. Dessa forma ela tornaria a ser quem era: ranzinza, contudo em um nível suportável. Bastava convencer o atual síndico. Tarefa dificílima.

- Ficaremos refém dela para sempre. Ou até que se vá. – bradou o síndico.

- Mas o senhor nada faz, senão concordar com tudo que ela diz!

- Geralmente porque ela tem razão... – com voz mansa.

Os dias passaram-se. A situação parecia não mudar. O censo dos apartamentos havia sido levantado por ela. O número de saída, o horário de chegada, as roupas usadas pelos condôminos... a Velha tinha conhecimento. Nada a condenava. Até que seu casal de filhos foi passar uns dias em sua companhia.

Serginho, um homem de quase 40 anos, e Patrícia, uma jovem de 29, viviam às custas de alguém: seja da mãe ou da namorada/namorado. Não queriam um emprego acima de 30 horas semanais, nem que começasse às oito. Sábado acordar antes das 10 e domingo comer feijão-com-arroz-macarrão-e-bife estavam fora de suas pretensões.

Certa noite, eis que tudo se revela. Serginho, bêbado, discute aos berros com Patrícia. Ninguém lembra como começou. Muito menos o motivo. Nada de cavalheirismo ou parentesco: grosseria proibida para menores de 18 anos.

- Sim! É isso mesmo! É o que você é!

- Seu gigolô!

A Velha corria de um lado a outro, tentando fazer com que se calassem – ou diminuíssem o tom de voz. Chegou a ligar o som em alto volume, fechar as cortinas, carregá-los para o banheiro: tudo para evitar o surgimento de comentários. Em vão. A vergonha surgiu e a liberdade deu o ar de sua graça. Correntes e grilhões despedaçados. Aleluia!

O dia seguinte foi o melhor de todos. Calmaria, sem vigilância. Custou para os condôminos se readaptarem. Mas conseguiram.


Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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