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COLUNISTA
Ricardo Yazigi
18/09/2007 - 06h18
A terra do aramaico
 
 

Quando cheguei a Malula, a 50 quilômetros de Damasco (capital da Síria), a impressão que tive é que havia voltado alguns milhares de anos no tempo.

Estima-se que as casas incrustadas nas rochas que fazem parte da paisagem tenham mais de 7.000 anos.

Malula é a única cidade do mundo onde grande parte de seus habitantes ainda utiliza o aramaico, provável idioma falado por Cristo.

O aramaico era falado pelos assírios e babilônicos, que o adotaram, para não ter que conviver com a complexa escrita cuneiforme. Foi substituído pelo árabe, mas permanece vivo em Malula.

Também incrustada em uma rocha fica a mais antiga igreja do mundo. Apesar de ser terminantemente proibido fotografar em seu interior, fiz a foto proibida que mostro neste texto, pois não sabia de tal proibição.

A protagonista da foto tentou me arrancar a máquina, mas felizmente o casal que me acompanhava tinha parentesco com a religiosa e a convenceu que eu deletaria a foto. Como vêem não resisti a publicá-la. Peço desculpas pela heresia, mas informar é meu dever.

Foto proibida - Interior da Igreja mais antiga do mundo (o sorriso da religiosa era para seu primo que me acompanhava, após ver o flash da máquina seu rosto se transformou com uma expressão de indignação).
Foto proibida - Interior da Igreja mais antiga do mundo (o sorriso da religiosa era para seu primo que me acompanhava, após ver o flash da máquina seu rosto se transformou com uma expressão de indignação).

Em outra igreja, assisti a uma breve missa onde o padre rezou o pai nosso em aramaico, apesar de ser um religioso sem religião, confesso que cheguei a me emocionar. Para quem tiver curiosidade reproduzo aqui o texto original que, muito provavelmente, era ensinado por Cristo a seus discípulos e uma de suas possíveis traduções.

Existem divergências quanto a alguns significados, mesmo porque na própria Malula poucos são os que realmente dominam o idioma escrito. No idioma aramaico clássico assim como no árabe, uma palavra pode ter o sentido de uma frase inteira.

Pai Nosso em aramaico

Abwun d’bwashmaya
Nethqadash shmakh
Teytey malkuthakh
Nehwey tzevyanach aykanna d’bwashmaya aph b’arha.

Hawvlan lachma d’sunqanan yaomana
Washboqlan khaubayan (wakhtahayan)
aykana daph khnan shbwoqan l’khayyabayn

Wela tahlan l’nesyuna
Ela patzan min bisha
Metol dilakhie malkutha wahayla wateshbukhta
l’ahlam almin.
Ameyn.

Versão Traduzida

Pai, respiração da Vida,

Fonte do som, Ação sem palavras, Criador do Cosmos!

Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós para que possamos torná-la útil

Ajude-nos a seguir nosso caminho,
Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor.
Nosso Eu, no mesmo passo, possa estar com o Seu para que caminhemos como Reis e Rainhas com todas as outras criaturas.

Que o Seu e o nosso desejo, sejam um só,
em toda a Luz, assim como em todas as formas, em toda existência individual, assim como em todas as comunidades.

Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós, pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iluda,
E nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento.

Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento de que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
a Canção que se renova de tempos em tempos e que a tudo embeleza.

Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.

Que assim seja!!!

Vista geral de Malula - os buracos nas rochas ao fundo são as entradas das casas incrustadas.
Vista geral de Malula - os buracos nas rochas ao fundo são as entradas das casas incrustadas.

Após visita aos lugares principais da cidade fui conhecer um líder religioso local que contou muitas histórias sobre seus antepassados, algumas traduzidas com detalhes para mim. Ao final, muito empolgado, com gestos animados narrava alguma coisa que para meu pobre árabe não havia ficado muito claro, mas parecia de grande importância.

Depois de muito esforço compreendi que ele estava explicando ao casal que me acompanhava como se chegava à loja em Damasco que vendia os maravilhosos doces que acabara de servir.

Nem só de religião vive a cidade sagrada.

Que assim seja!!!


Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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