As câmeras digitais chegaram no mercado há pouco tempo e trouxeram uma frase muito ouvida por aí: "Deixa eu ver?". Excluindo-se pessoas com um caráter narcisista, que tiram milhões de fotos de si mesmas na frente do espelho, o restante da população, que pede para ser fotografado, ainda diz essa frase após o flash. Maior prova de que o ser humano é realmente curioso. Tempos atrás, tirar foto não era tão comum - pelo menos para mim. Tirávamos quando havia uma comemoração, ou para registrar algum momento da vida. Numa visão bem romântica, tínhamos o objetivo de tentar eternizá-lo, mesmo que em um papel brilhante que tem suas limitações, podendo não ser tão durável. Além disso, esperávamos o filme fotográfico ficar completo, ou seja, com o número máximo de fotos possíveis, para poder levar para revelar. Hoje falamos em apagar uma foto, anos atrás o termo era outro, meio grosseiro, diga-se de passagem. Depois da revelação, rasgávamos o que não nos agradava. Às vezes, o ato de rasgar nos dava prazer, era o fim daquele sorriso estranho, daquela cara de sono e da roupa ridícula. Outras, porém, nem tanto. Imagina viajar para um lugar maravilhoso e quando regressar for retirar as fotos e ter uma surpresa muito desagradável. A queima de filme ou o próprio desfocado eram comuns, no entanto, o último irrita até hoje. Atualmente, foto não precisa ser boa ou normal. Deve ser perfeita e, se não for, programas como editores de imagens podem resolver o problema ou fazer um efeito adicional. Nosso nível de exigência quanto à fotografia cresceu - e não foi pouco. Quem nunca falou, quer dizer, gritou um "apaga" na vida? Só se for muito fotogênico, sendo que, mesmo assim, é difícil. Não podemos colocar qualquer foto no Orkut ou no MSN, afinal, o mundo virtual é a nossa vitrine. Câmeras digitais facilitaram a vida: criar uma pasta com fotos no computador é menos trabalhoso do que organizar um álbum, ainda mais, quando a família é grande. Segurar uma foto e poder tocar no seu material brilhoso com dedos sujos, no entanto, tem o seu valor. Assim como poder rasgá-la com uma expressão de desprezo também.
Nota do Editor: Patrícia Ziomkowski é porto-alegrense e estudante de Direito. Está dando seus primeiros passos - ou primeiros textos - como escritora. Mantém o blog "Crônicas da Patrícia" (patiziom.blogspot.com).
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