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Opinião
02/01/2009 - 16h46
Pirâmides?
Alexandru Solomon
 

“Do alto dessas pirâmides, 40 séculos vos contemplam” teria dito Napoleão durante a campanha do Egito. Não são poucos aqueles que colocam essa fala bombástica na estante das belas mentiras que a História produziu. De qualquer maneira, as pirâmides sempre estiveram na base – sem trocadilho – de lendas, crenças e também de práticas ilícitas.

Uma fraude típica, viabilizada pela ganância individual, consiste no envio de cartas, nas quais figura uma lista de 6, 7 ou mais pessoas. Tudo bonitinho: nomes e endereços completos. Pede-se ao feliz destinatário o envio de uma quantia modesta (por exemplo 5 reais) ao primeiro integrante da lista. Feito isso, o otário, seguindo as instruções, retira o nome do primeiro e coloca seu nome no fim da lista e envia cartas idênticas para um certo números de indivíduos – por exemplo, cinco - bolas da vez do otariado. Uma argumentação “irretocável” serve de “convencimento”. Algo assim: Se você enviar 5 cartas e cada um dos receptores fizerem o mesmo, caso nossa lista tenha 8 nomes, quando chegar sua vez de aceder à pole position, terá de receber uns... seguem-se os cálculos... 390.625 reais. Isso, se, você não mandar um número maior. Acompanham o brilhante discurso alguns exemplos numéricos, contemplando “com rigor” os efeitos de quebras no compromisso. “Se o terceiro da lista falhar, se o quarto enviar 8 cartas... com EXCEL, qual o mistério? O único dado deixado de lado é que serão necessários centenas de milhares de participantes, para que o tolo-aderente chegue ao topo, sem que no percurso alguém exclame “Ah, eu já participo!”. O esquema remunera os cabeças da lista e morre. Mais uma pirâmide se esfarela. Ai dos trouxas!

Um caso ligeiramente diferente – e legal, embora poucos sejam os que realmente conseguem ganhar “dinheiro grosso” é o Marketing de rede. O Marketing Multinível (MMN), também conhecido como Network marketing – marketing em rede, ou de rede, como queiram - funciona recrutando pessoas para vender um produto e oferecem um bônus adicional ou comissão se elas recrutarem mais vendedores como seus "downlines" (ou "subalternos"). Pode ser exigido dos novos associados que paguem pelo treinamento/material de propaganda, ou que comprem uma grande quantidade dos produtos que irão vender. Assim, é possível que um MMN seja considerado, forçando um pouco a barra, um esquema em pirâmide se os vendedores estão mais preocupados com o recrutamento de "downlines" ou se têm de comprar mais produtos do que é crível que conseguirão vender.

São comercializados produtos de limpeza, produtos dietéticos, recipientes e assemelhados. Nesses, o custo de manufatura, a matéria-prima e a mão-de-obra representam, grosseiramente, algo como um quinto do preço de venda de produtos parecidos. A diferença – pois o comprador final paga como se fosse adquirir numa loja, o “genérico” do extraordinário produto - é repartida num esquema: “general, coronel, sargento e soldado”. Toda a linha é remunerada, de acordo com regras exaustivamente explicadas aos protagonistas. E seguidas, é bom que se diga. O general, começou como soldado raso – ninguém nasce general -, mas evoluiu e construiu sua rede. Num primeiro passo mobilizou soldados e tornou-se sargento. Quando essa leva de soldados, pelo mesmo mecanismo passou a sargentos, ele se tornou coronel. Mais um esforço de todos e ele passa a ser general, enquanto abnegados soldadinhos sobem a encosta. É possível chegar a redes enormes – verdadeiros exércitos. Ao soldado – em nome da praticidade - é dito que o melhor da festa ocorre caso ele decida não perder tempo com a venda direta – que no fundo é uma chatice - e decida tornar-se rapidamente general. Para tanto, é de todo aconselhável que se torne, num primeiro passo, sargento comprando um lote de mercadoria suficiente para lotar aquele quartinho da bagunça e recrute soldadinhos, aos quais terá de repetir a fábula... Se ele conseguir vender o lote, ótimo. Se não, qual o drama? A empresa já vendeu... e, por falta de habitantes no planeta os últimos a chegar se vêem na situação de terem que atuar como soldados, inocentes formiguinhas soltas no mundo cruel para vender os tais produtos maravilhosos, colando adesivos no pára-brisa do velho Gol, telefonando, fazendo panfletagem etc.

Para motivar a tropa, são organizados eventos, nos quais os “generais” contam suas proezas “ontem era desempregado e vejam lá fora meu Rolls Royce” zerinho, zerinho. Os organizadores bradam: “Escreva você também uma história de sucesso como essa. Tudo depende de você!” Como disse: não é ilegal, embora o FTC (Federal Trade Comission) nos EUA andou endurecendo o jogo, uns trinta anos atrás. Como essas práticas não cessaram, é de se supor que foram consideradas se não normais, ao menos toleráveis.

Tudo isso para dizer que o mais recente escândalo, envolvendo Bernard Madoff não é uma pirâmide, como nossa imprensa insiste em afirmar. Acertam aqueles que falam num esquema Ponzi.

Carlo Ponzi notabilizou-se por uma enorme falcatrua entre os anos 1919 e 1920. De início, tudo correu bem. Ele comprava cupons internacionais de respostas pagas para o correio, na Itália e os trocava por selos nos Estados Unidos, aproveitando a diferença de 400% de preços. Como diriam os entendidos, ele apenas praticava uma arbitragem de preços. Breve ganhou dinheiro e atraiu mais pessoas ávidas de lucros. A promessa era de dobrar o dinheiro investido em 90 dias. No fim, não havia nem selos nem infra-estrutura para efetuar essas trocas. Os incautos colocavam dinheiro, mas quem iria retirar sabendo que perderia a oportunidade de auferir lucros fantásticos, como alguns conseguiram com valores iniciais pequenos? Os poucos que pretendiam retirar recebiam o dinheiro – apurando lucro - das novas levas de trouxas de plantão e dessa forma a máquina ganhava credibilidade. Ponzi foi preso, cumpriu pena e veio a falecer no Brasil, onde também tentou alguns golpes diferentes – antes de falecer -, acrescentariam os maldosos. Como curiosidade, a firma dele chamava-se SEC (Security Exchange Company), NÃO CONFUNDIR COM O XERIFE CAMBALEANTE DO MERCADO NORTE-AMERICANO.

Ainda não é bem o caso Madoff. Primeiro pelo tamanho do rombo, que ninguém conhece. O número 50 bilhões de dólares já foi contestado e fala-se em mais e em menos, mas de qualquer forma, é um valor algumas vezes superior ao PIB da Bolívia – o gigante que assusta os EUA..

“Bernie” foi um dos criadores da bolsa eletrônica Nasdaq, que chegou a chefiar.

A aplicação sugerida, que por muito tempo proporcionou lucros às suas vítimas – ao menos aos que sacaram, e que agora talvez tenham de devolver – revestia-se de alguma sofisticação. O aplicador comprava uma cesta de ações, combinada com a venda de uma opção de compra de índice e com a compra de uma opção de venda. Ou seja, em princípio havia limite para lucros e para perdas. Não era muito diferente, em teoria, de algumas aplicações de “principal garantido” que são vendidas por aqui, porém, há diferenças substanciais, para tranqüilizar eventuais apavorados. Além de detalhes, tais como o fato de a cesta de ações não ser espelho fiel do índice – e vice-versa - havia um pormenor absolutamente inacreditável. “Bernie” operava uma caixa preta. A pretexto de não revelar seu segredo, aos investidores era vendido um pacote hermeticamente fechado. Espantoso saber que investidores traquejados entraram nessa história sem saber ao certo o que estavam comprando. Quem parar e refletir um pouco verá que os adquirentes de produtos que empacotavam subprime não agiram de forma muito diferente. Um esquema no qual houvesse mais entradas que saídas poderia durar - e durou - muito tempo. Apesar de questionamentos surgidos já em 1999, nada se fez em nome da transparência. Tolos milionários adquiriam diretamente, ou a partir dos conselhos de administradores de fortunas superficiais, negligentes ou apenas crédulos esse produto tóxico. O fluxo de dinheiro novo garantia os resgates.

Com o agravamento da crise, os pedidos de resgate tornaram-se maiores e...

A casa caiu. E agora, adianta explicar para um novo-pobre que ele foi vitimado por um sistema de pirâmide, um esquema Ponzi ou uma arapuca sofisticada?


Nota do Editor: Alexandru Solomon (asolo@alexandru.com.br), formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, é autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar” e o recente livro/peça “Um Triângulo de Bermudas”. (Ed. Totalidade). Confira nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Laselva (www.laselva.com.br) e Siciliano (www.siciliano.com.br).

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