A farsa do protecionismo
"Essa doutrina visa proteger o mercado interno através da criação de mecanismos que dificultam a entrada no país de mercadorias importadas, reduzem a competição externa e assim permitem o livre desenvolvimento das atividades econômicas internas. A teoria contrária ao protecionismo é o livre-comércio (pela velha ortografia). Através desta linha de atuação, garante-se a independência de um país, enquanto ao se optar pelo caminho inverso, atinge-se o estágio da interdependência entre Estados concorrentes". Peguei essa definição na Internet. Ela é tão boa quanto qualquer outra. Para mentes maniqueístas, de um lado tem-se o protecionismo, do outro o livrecomércio (sem hífen, noblesse oblige). Como sempre, entre o preto e o branco, existe o cinza, logo, não há motivo para exaltação. A postura adotada pelo Brasil pouco difere da prática dos nossos parceiros comerciais. "Que OMC, que Doha! O mundo que compre de nós, e nós vamos manter as aparências e o discurso, naturalmente". Sem entrar no mérito da questão, já que é incômodo conviver com a "invasão" chinesa, e é sumamente chato ver nossos produtos taxados lá fora, vale a pena desistir da nossa grandiloqüência? Naturalmente, que um protecionismo à moda da antiga SEI que levou à estagnação de nossa indústria de Informática não é palatável, embora haja ainda quem suspire por ele. Sem a concorrência dos produtos de fora, nosso destino teria sido conviver até hoje com "dinos" informáticos e um vigoroso afluxo de contrabando. Por outro lado, um total "laissez-faire" sufocaria nossa indústria. Estrebuchamos quando topamos com subsídios aos agricultores europeus, e quotas de carne, limitando nossas exportações, mas olhamos com preocupação os produtos "Made in China", colocando em perigo nossa indústria calçadista, têxtil etc. Protestamos ante a mais recente recaída no "Buy American", mas preferimos que as plataformas da Petrobras sejam fabricadas aqui, mesmo se nossos estaleiros não são competitivos. "Buy Brazilian" pode! Um pé em Belém e outro em Davos, haja spacat, espa cate, "grand écart" enfim! Abraçamos a causa "Mercosul-e-todos-os-irmãos-unidos-para-sempre", sejam eles ALBA, Unasul ou outra sigla, mas ficamos calados quando a Argentina torce o nariz para as nossas geladeiras – em nome de uma correção de assimetrias – ou quando o Equador resolve se defender da invasão dos produtos brasileiros. Como está demonstrada a impossibilidade de todos os países terem simultaneamente superávits comerciais, resta-nos optar por um certo pragmatismo, sabendo que o tal "Buy American" será relativo, pois a Gerdau está lá, bem ’American", e com a existência de multis brasileiras o dano poderá ser menor do que possa parecer. Enquanto isso, nossa hábil diplomacia continuará defendendo a nobre causa da rodada Doha e Nossopresidente ganhará mais alguns pontos de popularidade, (faltam apenas 16 pontinhos) discorrendo sobre as lições que o Brasil há de ensinar às economias, em estado de profunda anóxia, do Primeiro Mundo. Nota do Editor: Alexandru Solomon (asolo@alexandru.com.br), formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, é autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar” e o recente livro/peça “Um Triângulo de Bermudas”. (Ed. Totalidade). Confira nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Laselva (www.laselva.com.br) e Siciliano (www.siciliano.com.br).
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