Virada Cultural em Caraguá. Overdose de música boa: inofensiva, estimulante, sem contra-indicações, cura as almas e eleva os espíritos. O mesmo para a dança, o teatro e todas as manifestações artísticas dessas vinte e quatro horas! Eis aí um exemplo de política cultural a ser seguido na sua essência, na sua ideologia: verdadeira democratização do acesso à arte. Se assim não fosse, como poderíamos ver ao vivo trabalhos como o que vimos? Dez da manhã em ponto chegamos na praça de eventos. Os músicos se preparando. De público, um céu azul, o marzão e poucos gatos pingados. Vamos tomar um café por ali, esperando começar. É a Sinfonieta dos Devotos de Nossa Senhora dos Prazeres com o projeto Mestres Mulatos, pesquisa sobre compositores da época colonial. Violinos, flautas, cordas e sopros vão penetrando pelos ouvidos e preenchendo todos nossos vãos internos com uma música suave e maravilhosa. O maestro Marcelo Antunes Martins vai explicando tudo com clareza e simpatia. Já tínhamos visto no palco o Mario Gato, caiçara “fazedor-tocador” de rabecas daqui do Ubatumirim (Ubatuba, SP), e eis que o maestro, com uma rabeca na mão, nos dá uma aula sobre o instrumento, feito pelo Mario Gato e muito elogiado pelo maestro. Fico imaginando a emoção de ver um instrumento feito pelas suas mãos ser tocado por músicos de tamanho conhecimento! Vejo que isso é importante, para ele, para a cultura e para a cidade. É importante o reconhecimento e o apoio ao trabalho desse nosso artista, o Mario Gato. Depois do almoço, duas da tarde: Penerei Fubá. Cultura popular caipira do Vale do Paraíba: divertido, alegre e dançante ao som de flauta transversal, acordeon e percussão. O cantor Nilton Blau tocava rabeca, violão e mais! Depois vamos para o século XXI: teatro Mario Covas. Um monte de gente de Ubatuba babando de inveja daquele teatro. Quando teremos um espaço desses aqui? É a pergunta que não quer calar. Estamos ali para ouvir cantar Mônica Salmaso, acompanhada do maestro Nelson Ayres ao piano e Teco Cardoso nas flautas e sax. Minha gente um primor! Também com essas feras! Tudo impecável: voz, arranjos, repertório (Chico Buarque, Villa-Lobos, Adoniran Barbosa...). Entramos em estado de graça! Que riqueza! Que tesouro! É a nossa música brasileira! Uma ponta de tristeza: pouca gente assistindo! Reflexos da falta de educação!
Nota do Editor: Mariza Taguada, professora de profissão e artista de coração, é paulistana e moradora de Ubatuba (SP) desde os velhos tempos.
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