Não entendo porque a maioria das emissoras de TV ainda investe pesado nos chamados programas populares que, em nome da audiência, vivem de explorar a desgraça humana. O que se observa é que a notícia em si não têm muita importância no contexto dos programas. O que importa é a performance dos apresentadores. Eles gritam com voz estridente, em tom agressivo e dizem o que lhes vem à cabeça, sem nenhuma preocupação com a ética e/ou com a concordância das palavras. Despejam na cara do telespectador um palavrório denuncista, mas não a denúncia séria que mereça a reflexão do telespectador. É apenas uma estudada indignação, do tipo "justiceiro" daqueles que se auto intitulam jornalistas ou repórteres policiais. É um festival de cenas bizarras com apresentadores dando murros na mesa, colocando o dedo em riste na lente da câmera ao acusar e pedir providências ao governo ou dissertando sobre assuntos sérios, como o avanço da criminalidade, sem nenhum compromisso com a ética da informação jornalística. A verdade é que esse tipo de apresentador quando está comandando o programa sente-se o dono da verdade e quer ser muito mais importante que a própria notícia. A pergunta que se faz nessa hora é "onde está o departamento de jornalismo dessas emissoras?". Pelo que se sabe, todo programa caracterizado como jornalístico deve passar pelo crivo dos profissionais especializadas no assunto exatamente para coibir excessos ou atitudes irresponsáveis que possam ocorrer. O que se sabe é que esses profissionais ganham salários milionários e são disputados à tapa pelas emissoras que, na busca incessante pela audiência, incentivam esse tipo de jornalismo, chamado de popular, mas que, na verdade, são escrachos populistas que não levam a nada. Nunca se soube que alguma denúncia feita por esses programas tenha sido levada a sério a ponto de ser apurada pela polícia ou pela justiça. Como se não bastasse, os jornais informam que o telespectador corre o risco de ver em breve mais um desserviço na programação televisiva. A Rede TV ameaça contratar o casal barrado no baile, Caroline Bittencourt e seu noivo, o empresário Álvaro Garnero, para apresentarem um programa de variedades de madrugada. As primeiras informações que circulam, preconceituosas e elitistas, dão conta de um programa com "dicas de consumo para as classes A e A+ e entrevistas com gente muuuuito rica". Por aí já dá para perceber o nível da nova "atração", não? Se a ameaça se consumar, nela com certeza não haverá gritos e baixaria dos programas tipo "mundo cão". Será um outro tipo de "trash", o do esnobismo de duas pessoas que não tem nenhuma tradição ou credibilidade no assunto. Ou a Rede TV está de olho no dinheiro do empresário ou pensa em aproveitar a momentânea fama dos dois que estão no spotlight por terem sido personagens de um dos maiores barracos do ano: o casamento de Ronaldinho com Daniella Cicareli. O resto todo mundo está careca de saber porque colunas e revistas de fofoca, e até os grandes jornalões que deixaram um pouco de lado o noticiário sério, abriram generosos espaços para repercutirem o "casamento do ano". A coisa chegou ao nível de descobrirem mais um dedo no pé da cinderela. Pois é. O telespectador continua sendo a grande vítima da programação na TV aberta. De um lado, as novelas com cenas de nudismo e sexo e histórias absolutamente inverossímeis, mas que já têm um público cativo difícil de mudar de canal. De outro, os demais canais tentando achar brechas na programação com programas de baixo nível ou de gosto duvidoso. Felizmente, as pesquisas indicam que a Internet vem ganhando cada vez mais espaço na preferência do consumidor, porque dá a ele o direito de escolher o que quer ver e onde se informar com segurança sobre o que está acontecendo. Graças aos sites de informação e jornais on-line. Enquanto isso, no país da TV... Nota do Editor: Leila Cordeiro começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e na CBS Telenotícias Brasil, como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros publicados.
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