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COLUNISTA
Alexandru Solomon
23/06/2016 - 07h17
Turbulência
 
 
Conversa (des)afinada

Não há originalidade alguma na constatação de que o País atravessa uma fase de tensões agudas. A Nação acompanha estupefata uma sequência inacreditável de denúncias, acusações e a um fluxo contínuo de revelações que convergem num redemoinho inimaginável de conclusões, que vão desde a banalização dos fatos até a execração da classe política, mesmo com o risco evidente de cometer injustiças chocantes. O que entra em colisão não são ideologias e sim práticas, que, se comprovadas, só podem ser execradas. Ou seja, muito além de interesses partidários, está em jogo a sobrevivência política de indivíduos e até de partidos.

Enquanto a poeira não baixar, salpicando ou não indesejáveis pizzas, totalmente indigestas, vale a pena refletir um pouco a respeito do que nós, brasileiros, desejamos. Com certeza, não desejamos tapar o sol com a peneira, já que esse procedimento, comprovadamente, é falho, quer metaforicamente, quer utilizado ao pé da letra.

“A observação nos mostra que cada Estado é uma comunidade estabelecida com alguma boa finalidade, uma vez que todos sempre agem de modo a obter o que acham bom. Mas, se todas as comunidades almejam o bem, o Estado ou comunidade política, que é a forma mais elevada de comunidade e engloba tudo o mais, objetiva o bem nas maiores proporções e excelência possíveis.”

Parece uma reflexão extraída de alguma publicação recente. No entanto, a afirmação pertence a Aristóteles. Constatamos que, a menos de alguns termos, hoje substituídos por modismos, pouco mudou ao longo dos séculos. “Todos sempre agem de modo a obter o que acham bom”. Se hoje falamos em valores ‘republicanos’ - por sinal, o que seria isso? -, pouco acrescentamos às afirmativas do filósofo. Em tese, os políticos almejam ’o que acham bom’. A observação pode parecer banal, mas é necessário não perdermos o foco, tentando contestar proposições que prescindem de demonstração. Em que momento poderão surgir divergências? Simples. Será na identificação do que possa significar o famoso “achar bom”. Numa discussão séria, devemos eliminar a alternativa do benefício próprio, apesar da existência de inúmeras evidências em contrário, e isso porque estaríamos examinando uma deformação patológica, pouco importa sua origem. Políticos agindo visando arredondar as suas contas bancárias são casos patológicos, pouco importando quantos sejam os portadores da moléstia. Corremos, assim mesmo, os risco de naufragar numa polêmica estéril, que em última análise colocaria frente a frente sistemas políticos. Mesmo assim, haveremos de admitir que os idealizadores dos sistemas políticos, sem nos determos em quais sejam, pensam, cada um à sua maneira na edificação de uma sociedade ‘melhor’, de acordo com seus critérios.

Outro filósofo grego, Epicuro, acrescenta uma dúvida oportuna, se bem que em outro contexto: “Como escolher uma física (ele se referia à Física, mas podemos estender a dúvida à política), se não dispomos de um critério de verdade.” Eis o problema: Qual seria o critério? Em nome de uma ‘tentativa de verdade” seria lícito afirmar que : ...e nas ações de todos os homens, e máxime dos príncipes, quando não há indicação à qual apelar, se olha o fim. Faça, pois, o príncipe por vencer e defender o Estado: os meios serão sempre considerados honrosos e por todos louvados" como queria Maquiavel? O ideal seria uma sociedade mais rica, mais culta, mais “justa”- com todo o risco que esse termo vago possa trazer embutido? Já que os critérios são discutíveis, os procedimentos que se resumem na assertiva de que “os meios justificam os fins” apoiam-se em alicerces frágeis, uma vez que a unanimidade não existe. Nenhum indivíduo ou agremiação política pode sacrificar a ética à essa bandeira discutível.

No limite, temos de admitir que a busca do ideal passa por inúmeros questionamentos. Tanto é que concordamos com Churchill ao admitirmos ser a democracia um sistema falho, para o qual, no entanto, não se conhece alternativa superior.

O que não é aceitável, é conviver com procedimentos que ferem a ética, os bons costumes e a lei, não necessariamente nesta ordem.

Não estamos discutindo o embate entre socialismo e capitalismo, entre democracia e tirania esclarecida. Nada disso. A sociedade está perplexa diante dos meios ilícitos empregados na luta pelo poder. Não há nessa afirmativa a apreciação dos objetivos. Apenas os meios chocam, sejam quais forem os indivíduos ou os partidos que optaram por eles.

Erram aqueles que imaginam estarmos à caminho de uma catástrofe. O Brasil é maior que a crise. O organismo Nação possui anticorpos capazes de debelar qualquer infecção. Por trás de tudo existem seres humanos falíveis, que, infelizmente falharam.

No fundo, estamos admitindo, como Rousseau – prometo ser essa a última citação – que “assim como a natureza deu limites à estatura de um homem bem-conformado, além dos quais produz gigantes ou anões”, temos pela frente um número surpreendentemente grande de indivíduos fora dos limites quanto à estatura. Nesse caso, trata-se de estatura moral.

É esse nosso problema. Quanto à solução, seria ingenuidade supor que poderá ser encontrada com facilidade. Resta-nos desejar que após a inevitável catarse, o Brasil saia fortalecido.

Não se faz omelete sem quebrar ovos, dizem por aí. Por acaso queremos comer omelete no meio desse lodaçal fétido? De qualquer maneira, quebrar os ovos parece ser importante.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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