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CULTURA
Dança do Boi de Ubatuba
Dança do boi de Ubatuba em 1951 - Foto: Arquivo UbaWeb

A Dança de Boi de Ubatuba é uma das variantes do Bumba Meu Boi Bumbá do Estado do Maranhão espalhada pelo Brasil. Exemplos: Alagoas - Boi Calemba, Boi Três Pedaços; Ceará - Boi Santo; Pernambuco - Boi de Reis; Rio Grande do Sul - Boi Marrequeiro, Boi Barroso; Pará e Amazonas - Boi Bumbá; Santa Catarina - Boi de Mamão, Boi de Vara, Boi de Fita ; Rio de Janeiro - Folguedo do Boi, Boi de Reis; São Paulo - Boizinho de Carnaval, Boi de Quatro Pernas, Dança de Boi; Maranhão - Bumba Meu Boi Bumbá.

Este folguedo folclórico, de maior incidência no Brasil, tem como centro o boi, figura constante dos ciclos agrários, divindade que representa força e fertilidade. Entremeou-se depois com as festas profanas do carnaval e em combinação com as festas do Divino e São João, espalhou-se pelas terras brasileiras.

Ao difundir-se no Brasil, recebeu denominações, formas e enredo diferentes. Sempre a figura maior é o boi, representado por modelo em armação com cabeça verdadeira ou modelada, o corpo revestido com pano pintado, bem colorido, em conformidade com os recursos financeiros dos grupos.

Em Ubatuba essa manifestação começou a fazer parte do nosso carnaval lá pelos anos trinta, como mostra o jornal da época "Echo Ubatubense". A Dança de Boi era apresentada pelo senhor Carlinhos, ou Carrinho, filho de Armindo Canos, um oficial aposentado do exército. Esse senhor era de origem nordestina (maranhense). Com ele Carlinhos aprendeu a confeccionar o boizinho e também os cavalinhos para brincar o carnaval. Com estes fatos podemos deduzir que a Dança de Boi de Ubatuba é sem dúvida uma das variantes do Bumba Meu Boi Bumbá do Maranhão. Outro detalhe é que o Bumba Meu Boi Bumbá se apresenta com folguedo popular dramatizado e nosso boizinho também era uma manifestação dramatizada.

Segundo depoimentos colhidos junto a antigos ubatubenses, nas primeiras apresentações da Dança de Boi do bairro do Itaguá, diversos personagens faziam parte do enredo (drama), que, no decorrer da dança, representavam. Leopoldo Scongelo era o patrão (mestre). Joaquim Thiago, o velho Quincas, era o angariador de donativos. Anisio José dos Santos e Lauro Bougert, vestidos de mulher, eram ricas fazendeiras que brigavam entre si para comprar o boi. Sebastião Rita era o contador de estórias. Dito Paratiano desejava matar o boi e repartir a carne com os pobres. Euclides Estevam, o Quidi, era o dançador que ficava debaixo do boi. Miguelzinho Firme e Joaquim Firme, dançadores nos cavalinhos. Augusto Bernardo, o Patera, era o toureador e Antonio Pinho e Antonio Pedro eram os mascarados. Os integrantes do conjunto musical eram: Alfredo Mariano, Arlindo, João Parú, Tibursio e Otávio Rolim, tocadores de violas e Benedito Parú, tocador de rabeca.

Com essa formação a Dança de Boi do Itaguá apresentou-se no carnaval de 1940 e foi um sucesso tão grande, que os blocos carnavalescos da época ficaram enciumados e prometeram quebrar o boi e seus componentes, se eles voltassem a se apresentar no carnaval do ano seguinte.

No ano seguinte, para que a Dança de Boi do Itaguá se apresentasse tranqüilamente no carnaval, Leopoldo Scongelo, mestre de dança, veio até a cidade e solicitou ao delegado de polícia segurança ao seu grupo. E assim foi feito. O delegado e um soldado vieram até a barra do rio Tavares e conduziram o grupo de Dança de Boi até o centro da cidade, e seus foliões puderam brincar o carnaval de 1941.

A Dança de Boi do Itaguá deixou de se apresentar nos carnavais por volta de 1947. De 1950 a 1970 muitos grupos se formaram, mas apenas como grupos de dança e não como folguedo, isto é, sem dramatização.

A música usada para a Dança de Boi é composta de versos de improviso, mas o refrão sempre foi o mesmo, e diz o seguinte: Investe, investe meu boi, pro lado que tem mais gente. E nesse momento o boizinho corre para cima do povo e tem que ser contido pelos cavalinhos e toureador.

Com o desenvolvimento chegando em Ubatuba numa velocidade muito grande, as ruas por onde desfilava a Dança de Boi sendo tomadas por veículos motorizados e os espaços diminuídos, o carnaval ubatubense foi perdendo a pureza da folia caiçara feita de mascarados, dança de boi, sacis e pequenos blocos. Para sobreviver nesse espaço, agora limitado, a Dança de Boi foi se adaptando, ganhando novos conceitos. De 1985 a 1996 não se viam mais as violas e nem se ouvia mais a música da Dança de Boi. De lá para cá novos instrumentos foram introduzidos na Dança de Boi. O grupo do Boi Dourado tem como figura central o boi, mas os instrumentos, violas e rebecas, foram substituídos por uma bateria de escola de samba e a música pelos sambas de enredo das grandes escolas de São Paulo e Rio de Janeiro. Só restou o boi, mesmo assim, já não dança como antigamente.

De 1950 a 1962, a Dança de Boi era tão importante no carnaval caiçara, que chegavam a sair diversos grupos pelas ruas da cidade. Nomes importantes são lembrados, como Augusto do Cristino com seu grupo do Morro da Pedreira, Sidônio e seu grupo da praia do Perequê-Açú, mestre Veiga com seu grupo do Sertão do Taquaral, mestre Diniz com seu grupo da antiga Rua da Adutora, Emilio Graciliano e seu grupo da Rodovia Osvaldo Cruz, Albado com seu grupo do bairro da Estufa. Nessa época havia uma competição entre os grupos de Dança de Boi. No último dia de carnaval, às 15 horas, os grupos se reuniam na Praça Nóbrega, que também já foi Praça do Programa e Praça Dr. Carlos Coelho, e tinha a briga de boi. Aquele que se mantivesse inteiro era o vencedor do carnaval.

FATOS PITORESCOS

Em 1958, Augusto do Cristino preparou o seu boizinho para brincar o carnaval e colocou uma caveira de boi recheada de cimento, para que, na hora da briga, o seu boizinho agüentasse as cabeçadas do adversário. No domingo de carnaval à tarde, o grupo do Augusto estava se dirigindo para a praia do Perequê-Açú, pois era costume os blocos de enredo e grupos de Dança de Boi dançarem um pouco em dois ranchos (bares) existentes naquela praia, o Rancho do Galo e Rancho da Sereia. Quando o grupo do Augusto se encontrava no meio da ponte sobre o Rio Grande, defrontou-se com o grupo do Sidônio que vinha para a cidade, em sentido contrário. Não deu outra! A briga do boi teve início. O boizinho do Augusto deu uma cabeçada no boizinho do Sidônio, que não resistindo ao impacto daquele boi com a cabeça de cimento foi para a água. Foi muita gargalhada e corre-corre, pois a maré estava cheia e o Sidônio, emaranhado dentro do boizinho, quase morre afogado.

Em outro carnaval, o boizinho estava dançando em frente ao armazém do Ponciano, que ficava ao lado do cinema, investindo pro lado que tinha mais gente, como manda o refrão da música. Na multidão estava uma senhora com uma criança nos braços que não parava de chorar, assustada com a folia do boi. A mulher, que era mãe da criança e que não queria perder um só instante da folia, dizia: - Não chore, seu bobo, o boi é seu pai! De fato era o pai daquela criança, mas a maneira como a mulher se expressou, serviu de chacota e provocou gargalhada em todos.

Outro episódio marcante dessa manifestação foi quando o boizinho Canarinho do mestre Veiga estava vindo da praia do Perequê-Açú para a cidade e defrontou-se com algumas vacas e um boi verdadeiro em uma das ruas do bairro. As vacas, assustadas com aquela cantoria e batucada, correram para o mato, mas o boi ficou enfurecido e partiu pra cima do grupo. Foi um corre-corre, cada um queria arrumar um local para se proteger, mas o boizinho Canarinho não teve a mesma sorte. Foi obrigado a enfrentar a fúria de um boi verdadeiro. Quando o animal deixou de chifrar o Canarinho, o pessoal percebeu o estrago causado. Pobre Canarinho, ficou todo arrebentado e o mestre Veiga teve que levá-lo de volta para o sertão do Taquaral para remendá-lo. Mas no outro dia o Canarinho estava de volta às ruas de Ubatuba, fazendo a alegria dos foliões.

TRABALHO DE PRESERVAÇÃO

Dança do Boi de Ubatuba - 1998 - projeto "Revelando São Paulo"
Foto: © Fátima Aparecida Carlos de SouzaFoto: Arquivo Fundart

A partir de 1983, a Seção de Cultura da Prefeitura Municipal, e posteriormente a FUNDART, iniciou um trabalho de resgatar, preservar e apoiar os grupos folclóricos de Ubatuba. Em 1985, a Dança de Boi voltava aos festejos populares, nos moldes dos anos 40. A Dança de Boi apresentou-se na Praça Exaltação a Santa Cruz no dia 22 de agosto, dia Nacional do Folclore. O boizinho e os cavalinhos foram feitos pelo senhor Emilio Graciliano. De lá para cá, essa manifestação folclórica é presença garantida em todas as festas populares do município.

Existem dois grupos de Dança de Boi em Ubatuba, o Boi Dourado, que se apresenta no carnaval, acompanhado por uma bateria de escola de samba. O outro, que conta com a presença dos filhos do saudoso mestre Veiga seguindo a tradição dos grupos dos anos 40. Um grupo não dramatizado, que usa violas, rabeca, caixa e adufe (pandeiro), cantando a mesma música do boizinho e se apresenta nas festas de São Pedro, do Divino, nos bairros e Festa da Cultura Popular. O tempo passa, os costumes da cidade tomam outros rumos, mas a Dança de Boi de Ubatuba perpetua-se e continua investindo pro lado que tem mais gente.

FONTE
Sidnei Martins Lemes
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