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Ano 1 - Nº 2 - Ubatuba, 06 de Dezembro de 1.997

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Contradições
Aquarela Caiçara
O bodoque do João Braz
Anos Dourados - Poesia
Não somos todos assim?
Mirim
O garoto que bagunçou com a chuva
 

Contradições
Eduardo Antonio de Souza Netto
articulista@ubaweb.com

Dia desses, indo para o serviço, como de hábito, pela Thomaz Galhardo, na minha mão , com minha panorâmica Monark, trocando gentilezas com outros ciclistas, cumprimentando um pedestre aqui, outro acolá, quando um ônibus da Costamar me dá uma fechada e uma tremenda baforada de fumaça preta na cara. Justamente no momento em que vinha pensando no quanto é prazeroso ir para o centro da cidade por essa avenida, recebendo no rosto a brisa marinha, sabendo que o Atlântico de toda a minha vida esta logo ali, no final (ou começo ?) da Avenida Prof. Thomaz Galhardo.
Entrei em estado de emputecimento. O ônibus seguiu seu trajeto, neurastênico, lotado, com gente em pé, espremida, em situação pior do que os bois que são transportados naqueles caminhões que a gente vê pela Dutra. Eu também segui em frente, com a sensação de impotência diante das sandices do mundo.Fim do texto.

Aquarela Caiçara
Aládio Teixeira Leite Filho
articulista@ubaweb.com

O sol incendiando o horizonte, espalhando reflexos mágicos pela imensidão de águas verdes claras, sempre contidas por morros visto ao longe de plácidos tons azulados, solitariamente rema o pescador no sagrado silêncio, somente quebrado pela portentosa voz do gigante mar e do remo na água a vibrar.

Praia de Iperoig - Foto: Pedro Paulo Teixeira Pinto De pai para filho desde tempos imemoriais, a atividade foi mantida. Os homens aprendiam a lidar com os fenômenos naturais, observando o rumo dos ventos, o movimento das marés, a temperatura da água, o brilho das estrelas, a espessura, configuração e cor das nuvens, dados a partir dos quais, podiam com certeza prever e sair com segurança para o mar.

Pescavam apenas o suficiente para a subsistência familiar ou da comunidade, não visavam lucros ou acúmulos de bens materiais.

Mantinham-se em comunhão com a natureza e dela em nenhum momento abusavam não; não poluíam o mar e não dizimavam gratuitamente a fauna marinha, elementos com os quais se mantinham harmoniosamente equilibrados.

Hoje o homem se sofisticou, o pescador artesanal solitário feito aquarela a se descolorir, vai desaparecendo e sendo esquecido, cedendo lugar às novas tecnologias e aos novos contextos que rapidamente tomam conta do mundo e consequentemente de nossa cidade. E quanto a nós caiçaras de quatro costados, fatalmente seremos, se não nos preocuparmos com a preservação de nossas tradições, engolidos pela cultura alheia e ficaremos sem nossos benzimentos, sem nossos remédios feitos de ervas, sem nossas rezas que podiam provocar milagres, sem nossos pescadores suados em gestos sincronizados em sua faina diária de puxada de rede, sem o reluzir prateado dos peixes por entre as malhas da rede e sem nossas canoas, para em nosso mar navegar, navegar, navegar...Fim do texto.

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