Festa do Divino
SIMBOLOGIA
| Foto: Arquivo UbaWeb | A Festa do Divino, como é popular-mente chamada a comemoração da descida do Espirito Santo sobre os apóstolos, é realizada em homenagem à terceira pessoa da Santíssima Trindade: O Espirito Santo. Realizada quase sempre no dia de Pentecostes (em grego Pentekoste significa cinqüenta), isto é, cinqüenta dias após a Páscoa, como é comemorada na vizinha cidade de São Luiz do Paraitinga. Segundo a tradição da Igreja, o dia de Pentecostes significa que após cinqüenta dias da Ressurreição do Senhor, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos. Todavia em Ubatuba, a Festa do Divino quase sempre não foi comemorada no dia de Pentecostes, e a explicação que encontramos para tal fato, é que no passado, devida a grande importância que desempenhava a pesca da tainha durante os meses de maio, junho e até mesmo princípio de julho, obrigava a população local a transferir as comemorações do Divino Espirito Santo para o mês de julho. Hoje a pesca da tainha está praticamente exterminada, porém a tradição de se realizar a Festa no mês de julho continua.
O Divino Espírito Santo é representado por uma pomba (sinônimo de mensageiro ) e possuidor de sete dons (SABEDORIA, ENTENDIMENTO, CIENCIA, CONSELHO, FORTALEZA , PIEDADE e TEMOR DE DEUS) daí, quase sempre a pomba que o representa possuir sete raias ou sete fitas.
A cor vermelha predominante tanto nas flores como nos andores e nos arranjos da Igreja representa para uns a chama, ou luz da qual o Divino é portador e para outros o amor, pois para a Igreja o amor é representado pela cor vermelha.
| Foto: © Pedro Paulo Teixeira Pinto | A Pomba que representa o Divino pousa quase sempre sobre uma esfera azul (o Universo) o que significa o domínio do mensageiro (Divino) sobre o mundo, iluminando-o. Por isso mesmo as flores que compõem a bandeira da Folia do Divino, formam uma esfera que representa o universo iluminado pelo Divino Espírito Santo.
Outro componente importante nas festas comemorativas ao Espírito Santo é a utilização da folha de canela sobre o chão das Igrejas, não só com o intuito de aromatizar a mesma, mas principalmente como símbolo da pureza.
Os sete tapetes ou tecidos de cor encarnada localizados no interior da Igreja ou até mesmo desprendendo-se das janelas das mesmas, tem a mesma simbologia dos raios e das fitas, isto é, representam os sete dons do Divino Espírito Santo.
A Festa hoje, no entanto, nem sempre se apresenta com todo este simbolismo, pois muitos deles foram alterados pela dinâmica popular. Podemos observar por exemplo, que os sete raios que circundam o Divino, atualmente, nem sempre são representados por esse número e que as sete fitas que antes partiam da bandeira da Folia, hoje são representadas por inúmeras delas, pois um popular pode acrescentar outras em pagamento a uma promessa.
Todavia o povo repete ano a ano, os rituais da Festa de acordo com o que diz sua fé e seu coração, independente, muitas vezes da compreensão de toda essa simbologia.
FONTE | Euclides Luiz Vigneron (Zizinho) |
FESTA DO DIVINO EM UBATUBA
Já não se festeja mais o Divino como antigamente... Naquele tempo, quando terminava uma festa, o novo festeiro, ou melhor o novo Imperador providenciava logo as corridas da folia. Folia, eram duas bandeiras, mais um bando precatório composto de Mordomo, chefe e recebedor das espórtulas (gorjetas) - Mestre, repentista que cantava e ritmava seus cânticos repicando o tambor :um rabequista, dois violeiros e um tiple. Estes eram os foliões. Duas Folias partiam simultaneamente para os extremos do município: uma para o Camburi, ao Norte, outra para o Tabatinga ao Sul. De lá vinham para a cidade em lenta peregrinação, cantando de casa em casa. Para a hospedagem no bairro - apesar de gratuita - havia séria disputa e a honraria cabia ao mais generoso na espórtula ou ao mais influente junto ao imperador.
Depois desta peregrinação, de bairro em bairro, a FOLIA chegava à cidade e após breve repouso partia para a segunda corrida que era manobrada de modo a aqui chegar em vésperas da Festa, para a qual extenso programa já estava organizado.
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Foto: Arquivo FUNDART | | Foto: Arquivo FUNDART |
Nove dias antes, ao amanhecer, a Folia percorria as ruas da cidade, acompanhada pela Banda Musical: eram as Alvoradas. A noite, novena solene com benção do Santíssimo Sacramento e depois de nova caminhada pela cidade, leilão de prendas em coreto armado no Largo da Matriz. No dia da Festa, domingo, pela manhã, Procissão das Esmolas. O Imperador levando a Coroa, o círio, à guisa da báculo e seleto cortejo, percorria as ruas, com senhoritas angariando donativos. As onze horas, Missa solene, cantada a três ou quatro vozes, acompanhadas no coro pela Banda Musical. Na missa, o Imperador tinha lugar destacado junto ao Altar-Mór, cercado por alguns cavalheiros que representavam a Corte. Finda a Missa, o Imperador, a Corte e o celebrante, dirigiam-se ao Império, no coreto anilado frente a Igreja, onde havia benção dos pães e doces, que havia em abundância, para serem distribuídos aos "promesseiros".
Os "promesseiros" compareciam levando uma vela, uma peça de vestuário, ou qualquer objeto fruto de sua promessa, mas sempre segurando-o envolto num lenço. Recebidos pelos atendentes do Império, estes devolviam no lenço, pão e doces. Findo o Império, farta distribuição de comes e bebes na Casa da Festa, para em seguida novo cortejo levar alimentos aos presos da cadeia (quando havia) e aos doentes da Santa Casa.
A tarde, na praça hilariantes demonstrações, como pau de sebo, corridas em sacos, porco ensebado e outras mais. As 17 horas, imponente procissão com inúmeros andores, nunca menos de oito e presença das Irmandades do Santíssimo Sacramento, Apóstolos da Oração, Pia União das Filhas de Maria e outras. A procissão voltando á Igreja, verificava-se indisfarçável inquietação: ia-se proceder a eleição do novo Imperador para o ano seguinte.
Doze nomes eram depositados em uma urna e em outra onze cédulas em branco e uma com a inscrição: "Imperador". Em suspenso os nomes eram anunciados um a um, até que surgia a cédula: "Imperador"!
O contemplado, envaidecido apressava-se por chegar em casa receber o Imperador destronado, que com povo e a Banda Musical ia levar-lhe a coroa do Divino Espírito Santo. A noite, finalizando a Festa, havia variada demonstração de fogos de artificio, onde ressaía a habilidade do maestro e o pirotécnico Benedito Xavier Teixeira. Devemos acrescentar que não havendo outros entretenimentos na cidade e nos bairros, a Festa do Divino era o acontecimento máximo e a população se preparava nas compras, nas reservas, nas confecções de vestuários e tudo mais quanto pudesse manifestar ostentação nos dias festivos.
FONTE | Washington de Oliveira (Seu Filhinho) |
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