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COLUNISTA
Aládio Teixeira
04/09/2006 - 15h04
Enquanto você dormia...
 
 

Estacou de repente e tombou vertiginosamente, até ser abruptamente contida pela dureza do solo áspero e escandalosamente seco. O cinza do cimento foi sendo tragado pelo vermelho encarnado, que a princípio avança rápido, para em seguida adquirir a cadência lenta do sangue que esvaece.

O estampido da arma que causara o repentino tombo, da mulher que, agora jaz, se imiscui entre os diversos sons que compõem a insana orquestra, cotidiana da grande metrópole. O corpo imóvel contrasta com o ritmo alucinante dos passantes que não percebem o estático em decúbito dorsal, a rivalizar de forma acachapante, com o movimento inexorável da cidade, que, nem por um átimo de segundo se detém para assistir ao cadáver pateticamente estatelado, feito matéria bruta, por Deus, sem valor!

O giroflex empresta à cena, um certo clima de dramaticidade que o resto do quadro não padece. Ninguém se solidariza, obtusamente seguem em frente, como se nada houvera. Chega o rabecão, o corpo sem nenhuma delicadeza ou comiseração é transferido da calçada para a gélida maca de metal e, finalmente aos trancos e barrancos é jogado para dentro do carro, que parte a toda, chiando os pneus no asfalto quente, rumo ao IML.

Sete, oito, nove horas e Emily nada de dar o ar da graça. Tudo muito estranho, pois jamais se ausentara tanto assim. Moça caseira, de namorados não se tinha notícias. O ponteiro do relógio agora corre célere: dez, onze, doze badaladas!!!

Estúpido aguardar calmamente degustando whisky com guaraná, pois com certeza, algo àquelas alturas não se encaixava muito bem. Ainda que se quisesse dissimular, definitivamente calma já não mais havia.

Vencidos, finalmente saem para a escuridão da noite e iniciam uma procura cega, tensa e incessante por bares, teatros, lanchonetes e cinemas. De Emily, nem sombra. Procuram na delegacia, em hospitais, contudo, todos os esforços físicos ou intuitivos se revelam infrutíferos. Emily realmente sovertera, sem deixar um ínfimo sinal.

Novos giros e, nada, nenhuma e insipiente pista que fosse. No IML, se recusam a ir, pois esta possibilidade os apavorava. Pensam em Emily toda gelada, saltando de chofre da gaveta, mais roxa que violeta genciana, que horror!!! Todos os lugares possíveis e imagináveis vasculhados, não havendo mais onde procurar, lhes restam como último remédio, voltar para casa e esperar os sortilégios de um novo amanhecer.

A chave gira nervosa e, imediatamente a porta de forma ágil se escancara, revelando um rosto surpreso que saúda o comando da madrugada. Instada por mil interrogações abruptas, Emily transfigura-se diante da turba enfurecida que lhes cobra a noite de maus presságios e sono perdido.

Explica então, que não havia saído, se perdido, ou logicamente morrido!!! Apenas e tão somente, ocorrera que sentira muito calor e, então decidira colocar uma esteira na laje, onde costumavam tomar sol aos sábados e domingos e dormira o sonho pesado dos justos, só acordando lá pra tantas da madrugada e fora somente isso!!! Mas em todo caso, se faziam questão, pedia mil perdões a todos por não ter ido dar à morada do senhor!

Quanto ao crime, ao corpo tombado espetacularmente em plena via pública movimentada, sob a luz do dia, num calor de derreter catedrais, agora se nos parece distante e fugidio, feito algo de um passado remotíssimo, que virou número, estatística, crime não resolvido, que seja como for, a ninguém causou maiores comoções, sendo passado, presente e futuro de uma sociedade que, de forma mesquinha e banal, o expõe feito necrose que, de crônica, se nega cicatrizar!!!


Nota do Editor: Aládio Teixeira Leite Filho é natural de Ubatuba e se auto-intitula: "um escrevinhador caiçara".
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