Cabelos cacheados, pele pálida, pernas peludas, buço, sobrancelha por tirar, unha para pintar. Quem é? É fácil responder a questão, não é “O capitão Caverna” é uma mulher. Este é um retrato fiel do que a grande maioria das mulheres precisa fazer em termos de cuidados estéticos para manterem a beleza. E ainda faltou pintar o cabelo e uma máscara facial, para deixar a pele macia e tantos outros tratamentos estéticos necessários para retardar envelhecimento, ou simplesmente parecer mais bela. O que nos mantém dignas da observação masculina, dentro dos padrões básicos de beleza, saúde e limpeza. Entretanto, muitas mulheres se submetem a tais tratamentos em locais sem estrutura e sofrem as conseqüências de pessoas despreparadas, e muitas vezes de produtos caseiros. Que causam danos tantos estéticos como a própria saúde. Em nome da beleza mulheres têm sido vítimas de tratamentos estéticos que as mandaram direto ao hospital e não ao cume da beleza. A primeira foi vítima do formol, produto químico usado em fórmulas de “escova gradativa”. A segunda vítima sofreu queimaduras intensas ao fazer bronzeamento artificial. As causas ainda estão sendo investigadas. Diante desses e de antigos incidentes ligados a produtos e tratamentos de beleza fica uma questão: vale a pena? Alguns dizem que para ficar bonita é preciso sofrer. Discordo da frase e a questiono com freqüência, afinal temos de ser inteligentes e preservar nossas vidas acima de qualquer que seja o artifício embelezador. Os fins não justificam os meios, para ficar bonita não é preciso arriscar-se com produtos comprovadamente perigosos e que causem danos. Nos anos 80 haviam cabelos coloridos, negros e encaracolados, ondulados, volumosos. As pessoas se assumiam melhor naqueles dias. Obviamente muitos já pintavam o cabelo de cores berrantes, os cortavam com formas diferentes, mas com os avanços químicos e tecnológicos alisar o cabelo tornou-se lugar comum, mas não isento de danos. Acredito na mudança, acho-as bem-vindas, desde que não mate, ou deixe seqüelas irreparáveis. Claro, muitas meninas ficam mais bonitas ao se submeterem a tratamentos estéticos. Principalmente num país onde cabelos cacheados são vistos como feios, que transmitem sensação de pouca responsabilidade. Li em uma revista de grande circulação que para pessoas com cabelos cacheados, devem durante uma entrevista de emprego prendê-los, ou simplesmente usar gel. Claro que ninguém vai despenteado buscar um emprego. Será racismo, será descriminação, ou uma tentativa de padronização? Somos Brasileiros, sofremos, ou melhor, herdamos de nossos antepassados negros, índios, holandeses, franceses, espanhóis uma mistura bem relevante para ser contida a base de constantes escovas. Não sou contra mudança, beleza, sou contra a perda de identidade, a massificação de um “tipo” de beleza que obriga as mulheres a investir num visual forçado e que na maioria das vezes não condiz com seus traços e beleza natural, que termina soterrada por padrões estéticos que não são os seus. Meses atrás a moda fez vítimas, modelos e simples meninas de classe média que buscavam um referencial de beleza ilusório. O que ficou óbvio para muitas é que ser magro não é uma máxima e ser gordo não é crime, ou motivo de piada. A obesidade e a anorexia são doenças sérias, como muitos fatores e agravantes. E não somente uma compulsão a comida, ou ao vômito. Toda e qualquer doença precisa de tratamento e compreensão. O que vale, acima da beleza e padrões gerados pela mídia, é a saúde e sua manutenção de formas saudáveis. O critério de busca é uma só, inteligência. O que não precisamos é ficar linda de morrer.
Nota do Editor: Nazarethe Fonseca é jornalista e escritora.
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