Zé da Garça era uma pessoa difícil: não parava de reclamar, principalmente quando as coisas não saíam como ele queria e, embora tivesse de tudo, parecia que nada dava certo para ele. Parecia época de maré baixa na sua vida: a canoa, seu ganha-pão, estava fazendo água e chovia sem parar, o que o impedia de ir à mata para encontrar um bom tronco de guapuruvu para fazer nova canoa. Com a roça encharcada não podia colher a mandioca nem fazer farinha. Suas economias foram acabando, até que um dia acordou e não havia mais nada: nem uma colher de farinha, nem uma xícara de café. Nada... Praguejando contra céus e terra, Zé da Garça pegou sua vara, seus apetrechos e foi para a Barra da Lagoa tentar pescar alguma coisa que matasse sua fome. Sentou-se na beira d’água e esperou com paciência. Uma, duas horas e nada. De repente, uma fisgada tão forte que ele pensou: “Afinal minha sorte mudou!” Lutou muito para tirar o peixe da água: - É grande o danado, deve estar cheio de ovas – falou em voz alta, exultante, já antevendo o almoço. Escondeu o peixe o mais que pode, pois não queria que os vizinhos vissem para não dividi-lo com ninguém. Afinal a época estava difícil para todos dali. Chegando em casa correu para limpar a corvina. Ao abri-la, que surpresa! No lugar de ovas, encontrou pepitas de ouro! - Minha Nossa Senhora! Agora sim minha sorte mudou! - quase gritou de tão feliz. E assim foi. Comprou mansão, carro zero, casou com a moça mais bonita do lugar, nunca mais pescou nem olhou para seus vizinhos. - Ai, ai, ai, glub, glub, ai, ai, ai - gritou Zé da Garça debatendo-se na água da Barra da Lagoa e acordando deste sonho incrível. Olhou em volta, não tinha peixe nenhum e sua barriga continuava roncando de fome... Todo molhado voltou para casa. Quando ia passando, seu vizinho, vendo que ele voltava de mãos vazias, chamou-o e o convidou para almoçar. - Vem compadre, que hoje pesquei uma linda corvina cheia de ovas! Foi uma benção de Deus!
Nota do Editor: Mariza Taguada, professora de profissão e artista de coração, é paulistana e moradora de Ubatuba (SP) desde os velhos tempos.
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