Capítulo I - A viagem até Cananéia
O Dalai Lama diz que é bom ir a algum lugar que você não conhece pelo menos uma vez por ano. Por quê? Porque é uma experiência enriquecedora da alma e do espírito em todos os sentidos. O Guaruçá desta vez saiu do buraquinho e percorreu toda a costa do Estado de São Paulo: uma aula de geografia, de história, de formação do povo brasileiro, de ver como o índio foi importante neste processo, com seu conhecimento profundo dos aspectos geográficos, explicados pelos nomes dados na língua tupi. Faltou termos nas mãos “um Aurélio” de tupi-guarani pois queríamos saber mais... Portanto quando na teoria dizemos que a cultura caiçara vai do sul-fluminense ao norte do Paraná, na viagem vimos na prática o porque. Daqui de Ubatuba até o final de São Sebastião estamos em casa, com a Serra do Mar e a Mata Atlântica chegando no oceano e formando costeiras, baías, enseadas e praias de todo tipo. A partir de Bertioga a paisagem começa mudar. A Serra se afasta, surge uma grande planície de mangue e uma grande linha reta - Siga em frente - recomendam as placas até o entroncamento Guarujá-Santos. Entramos à direita e a paisagem fere: a zona industrial, a fumaça, os caminhões, o barulho, a poluição, a atenção redobrada, a obra de engenharia grandiosa na entrada da Imigrantes. Cubatão com sua tragédia jamais esquecida, Santos, São Vicente, Praia Grande, lembranças de infância de férias dos paulistanos... vendedores de caranguejos e bananinhas-ouro pela estrada afora... De novo a placa: - Siga em frente. A partir de Itanhaém novamente a paisagem muda... nossa querida Serra do Mar aparece de novo, o movimento diminui e uma surpresa: de repente a mata vira bananal! Dos dois lados da estrada, nos morros, tudo é banana-nanica! As placas, agora, anunciam Peruíbe e as pernas pedem pra esticar, entramos à esquerda e lá estão eles: o mar e a praia, aliás o estilo de praia que vemos nessa região... compriiiida... Voltamos pra estrada - Siga em frente - paramos pra perguntar - quanto falta? E descobrimos que ainda falta muito... Ainda bem que existe o celular pra distrair as crianças que estão impacientes por chegar... Outro pedaço de civilização - BR-ll6 São Paulo – Curitiba, milhões de caminhões e buracos - todo cuidado é pouco! As cidades vão passando e finalmente depois de Registro a placa mais esperada anuncia Parequera-açu e... CANANÉIA! Na paisagem de agora o verde predomina, não sabemos onde está o mar, muito menos que estamos chegando “num mar” de mangue. Ligamos pro nosso anfitrião - Sigam pela ponte -, informa ele. Cananéia é uma ilha no meio do mangue, não tem mar nem praia. Como poderíamos imaginar isso? Só vamos nos maravilhando com aquela paisagem inusitada e finalmente um lindo portal nos recebe no primeiro povoado brasileiro: chegamos a Cananéia no extremo-sul de São Paulo. Nosso anfitrião nos espera com um saco cheio de mariscos: mariscos de mangue e as surpresas continuam...
Nota do Editor: Mariza Taguada, professora de profissão e artista de coração, é paulistana e moradora de Ubatuba (SP) desde os velhos tempos.
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