Uma grande colega e descendente de várias gerações de caiçaras, falando da Picinguaba, local de onde nossas famílias haviam a muito migrado, em certa altura da conversa, contou um fato, que a ela fora transmitido por sua avó, que segundo ela, tratava-se uma senhora muito bem humorada e espirituosa. Antigamente era comum os moços daqui de Ubatuba irem trabalhar em Santos, nos bananais ou para pescar, e o motivo desse deslocamento era muito simples, não havia trabalho aqui e o negócio era pegar o caminho da roça e procurar ganhar dinheiro em outras paragens. Nico, vamos chamá-lo assim, estava apaixonado por uma picinguabana, não se declarara à moça, mas tal qual mosca de padaria, se esforçava ao máximo para estar sempre por perto da amada, ocorre no entanto que também para ele chegou o dia de ir trabalhar em Santos, precisava de dinheiro para ajudar o pai no sustento da família. No dia aprazado lá se foi o Nico para Santos, logo ao desembarcar na cidade já conseguiu emprego num barco sardinheiro e rumou para o Sul. Pescava quinze dias e depois vinha para Santos descarregar o pescado, depois dava uns bordejos pela cidade e novamente ia para o Sul pescar novamente. Sua vida passou a ser aquela, pescaria e passeios pela cidade de Santos, para ele um deslumbre, pois que criado na Picinguaba, nunca tivera a oportunidade de ver as coisas do mundo, e foi num desses giros pela cidade que pela primeira vez conheceu e tomou um picolé, uma sensação da época, na cidade de Santos. Terminada a época de pescarias, finalmente Nico estava voltando à Picinguaba para rever a família, os amigos e principalmente a moça que tanto amava, e no deslumbramento de impressioná-la resolveu comprar um picolé e levar como uma espécie de xeque-mate para que ela afinal se decidisse com ele namorar. Chegou em Picinguaba pela noite, picolé no bolso, e o fato é que rolava um bailão de tirar poeira, Nico não perdeu tempo e para a função, como diziam eles, se dirigiu. Mas sua decepção foi grande, pois que a amada dançava animada com outro rapaz e nem se tocou que ele havia chegado. Nico não se deu por achado, e toda hora passava perto da fulana e dizia: - O que é seu tá pingando! Dava outra volta e novamente dizia: - O que é seu tá pingando! E assim foi a noite toda aquela ladainha: - O que é seu tá pingando! A expressão pegou e, naqueles tempos, quando alguém tinha alguma atitude que contrariava alguém, logo era advertido com a famosa frase: - O que é seu tá pingando!
Nota do Editor: Aládio Teixeira Leite Filho é natural de Ubatuba e se auto-intitula: "um escrevinhador caiçara".
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