Ubatuba é uma festa para os olhos, recanto abençoado por todos os Orixás... É a morada que Deus escolheu para me presentear. Por onde passo, o cenário é desconcertante, nunca me canso de admirar. A diversidade de cores, formas e texturas me surpreende a cada olhar. É beleza demais! É grandeza demais! Exagerada inspiração do grande artista, expressão do amor que ele tem por nós. Quando acordo, vejo pela janela o amanhecer branquinho, uma luminosidade difusa, suave... Lá fora, a paisagem é puro romance: a sinfonia da passarada, gotinhas delicadas acariciando a superfície verde da Mata Atlântica. Inspiro profundamente o prana, a pureza cósmica do ar, sinto o cheiro da terra molhada. É tão belo que me emociona, começo a meditar. Mistura de prece e agradecimento por estar aqui. Saio pedalando para o trabalho. Em meu caminho à beira-mar, admiro o espelho mágico do céu. Incrível como ele é maravilhoso de qualquer jeito! Quando acorda de mau humor, é um espetáculo de força, poder e energia. Mansinho então, é serenidade infinita, lagoa a perder de vista. Diferente a cada dia, imprevisível, misterioso e apaixonante (parece até alguém que eu conheço!). Cada momento pinta uma tela impressionista: O sol se despede, espalhando no ar uma tinta furta-cor, sobrenatural. A lua amarela e redonda surge no horizonte da praia onde moro e lança seu rastro luminoso no mar. Surpreendente guaiamum roxo e azul sai da sua toca na lama preta do mangue para assistir ao espetáculo. Nasce uma flor azulamarelabranca de dentro daquela bromélia espinhuda pendurada no alto do coqueiro. Carregado de cocos verdes, suas águas deliciosas saciam minha sede de imaginação. Putz! Agora tem um grilo vermelho na minha janela! A pitangueira do vizinho, que eu vejo por cima do muro, é refeitório das saíras-de-sete-cores, do tié sangue e do sabiá do papo amarelo. De repente, uma reunião de borboletas azul-fosforescentes, almoçando a jaca que caiu de tão pesada na mata. A chuvinha, tão freqüente, é também a máxima expressão da vida. Nesses tempos em que a água é um bem precioso, quase extinto da face da terra, ela cai dos céus em abundância, encharca a terra, brota das pedras, escorre pelos rios e deságua no mar... Ubatuba é a minha cidade, não tem jeito. Sempre que me afasto, a maré me traz de volta. Hoje, estou me deixando ficar por puro prazer. Soltei meus longos cabelos ao vento, lancei minha alma ao mar. Qual raízes, meus pés descalços se fixam nessa terra abençoada. O sol pinta meu corpo, dá um tom enferrujado à minha pele. Sou filha da natureza, aqui é meu lugar.
Nota do Editor: Aline Rezende é jornalista, meio poeta, um tanto quanto caiçara e completamente utópica.
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