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COLUNISTA
Aline Rezende
29/12/2005 - 11h01
Carcinomanias ubathumanas
 
 

Há algum tempo, não muito distante, era lugar-comum entre os escritores ubatubenses exaltar as belezas naturais da nossa cidade, assim como fotografar pores-de-sol avermelhados ou pintar o Farol da Barra numa tela. Hoje em dia está na moda e até mesmo já virou lugar-comum ver os defeitos e ficar apontando as responsabilidades. Realmente, os dois fatores (beleza e defeitos) existem e são dignos de se comentar exaustivamente por todos os que vivem aqui.

O que enfeia Ubatuba, como em qualquer lugar desse planeta, é a mesquinhez típica de ser humano, a única criatura desvirtuada da natureza. A guerra das vaidades, a disputa por um lugar ao sol, a individualidade e a facilidade para reclamar versus a indisposição para mudar o que está ruim. “Se eu puder mudar as coisas apenas apontando o dedo, maravilha. Mas se eu tiver que tirar meu traseiro do assento, ah, não!” Parafraseando o colega Julinho Mendes, “tá feio, mas tá bom”. Não é só político que pensa assim. Pelo contrário. Principalmente a população pensa assim. Comodismo, egoísmo, avareza e falta de amor ao próximo são os cânceres malignos que corroem as entranhas da sociedade.

Não é à toa que muitos grupos que gostariam de ver Ubatuba viva não tenham obtido muito sucesso. O que, invariavelmente, acontece nessas tentativas são reuniões e mais reuniões de enfadonho discurso, demagogia exacerbada, politicagem enrustida e falta de entendimento. No fundo, cada um visa e defende seus próprios interesses. O que há é um despreparo dos homens para entenderem o próximo como um irmão, ou um espelho de si mesmo, com as mesmas necessidades, medos e anseios. A grande maioria das pessoas tem dificuldade em medir o custo-benefício das ações e de compreender que, apesar de uma medida não beneficiar a alguém individual e diretamente, ela pode estar contribuindo para o melhor funcionamento da coletividade.

Certa vez, fui a uma reunião que tinha o objetivo de encontrar uma solução para o problema das crianças que ficavam tomando conta de carros nas ruas da nossa cidade. Representantes de diversos seguimentos estavam presentes. Cada pessoa ali tinha idéias mirabolantes e planos infalíveis. Alguns tinham boas idéias e boas intenções, mas ninguém se entendeu. Após horas de discussão, muito orgulho ferido e nenhuma conclusão razoável, cada um voltou aos seus afazeres e não se tocou mais no assunto. Tive a frustrante impressão de que as crianças eram a questão menos importante, infelizmente.

O mesmo aconteceu com a manifestação para “proteger a árvore centenária da Avenida Iperoig”. A maioria ali queria mais era que a árvore se explodisse. A discussão era: deixar ou não deixar a “feira de produtos afins” em um espaço tão privilegiado da cidade. Quem se beneficia com a feira, logicamente, quer que ela continue. Quem não tem nada a ver com ela, quer mais é que se “exploda”, assim como toda a gente que tira dali o seu sustento. Mas e se a situação fosse contrária? E se quem não tem nada a ver com a feira tirasse dali o sustento? Provavelmente, sua visão, opinião e bandeira seriam opostas. E a amendoeira centenária? “Ah, ela está mesmo tão velhinha... Não deve impedir o progresso...” Que progresso? O que é o progresso afinal?!

Um grande progresso seria que as pessoas, além de se preocuparem com a vida e as atitudes alheias, fizessem algo para melhorar a qualidade de vida de, pelo menos, algumas delas. Gestos simples, como fazer uma visita ao Lar Vicentino, dar dez minutos de atenção a um ser humano que está lá esquecido pela família, pagar um picolé para uma criança carente, ser voluntário de alguma causa social, montar uma associação qualquer que cuide dos andarilhos, dos cães de rua, dos doentes, das crianças sem estrutura familiar e sem perspectivas para o futuro, enfim... Progresso seria o ser humano voltar para dentro de si e redescobrir que o amor incondicional e a fé são capazes de mover montanhas.

A nossa qualidade de vida não depende só do governo e nosso dever não acaba ao apertar a tecla verde da urna eletrônica. Criticar sem nada fazer também não resolve as coisas. Pelo contrário, causa mal estar, pessimismo, úlceras, crises de miolo mole e ranzinzice aguda. Tampouco nossa missão se restringe a conquistar o pão nosso de cada dia e garantir o conforto da família. Somos todos um só organismo. Todos nós somos responsáveis pela manutenção, não só da nossa casa, mas também do nosso bairro, nossa cidade, nosso estado, nosso país, nosso planeta e nosso universo interior. Desde o micro até o macrocosmo, estamos todos interligados. É imprescindível tomarmos consciência disso para termos tempo de reconstruir o mundo.

2006 vem aí! Sejamos mais fraternos, gentis e cuidadosos uns com os outros e com o nosso belo planeta!


Nota do Editor: Aline Rezende é jornalista, meio poeta, um tanto quanto caiçara e completamente utópica.
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