Este causo me foi contado pela mesma colega que passou a história "O que é seu tá pingando", que salvo uma vírgula ou alguns pontos a mais aqui, ali, em sua essência, foi mantido na íntegra. Na praia de Picinguaba, há muitos e muitos anos atrás, num tempo em que só era possível perder a tramontana, nunca, jamais, nem em sonhos alguém ficar irado, como em nossos ditosos tempos modernos, existiu na dita cuja praia, aqui já anteriormente citada, um morador que possuía um belo e feroz cachorro, até ai normal, pois que tantos outros ferozes cães pela aí proliferam, contudo, este era especialmente feroz, era de uma ferocidade em seu grau máximo, vamos colocar assim, sendo que o mesmo, atendia pela providencial alcunha de Feroz. Acontece que o canino em questão era realmente, comprovadamente de maus bofes, e não media esforços para avançar e abocanhar uma boa canela, coxa ou outra parte qualquer do primeiro desavisado que encontrasse e à sua mercê ficasse. O fato é que ninguém abusava do Feroz, quando o avistavam era sebo nas canelas e pernas pra que te quero, era de se correr de a camisa fazer papos, pois que na mínima vacilada, era fatal que a vítima terminasse abocanhada pelo cão, que diziam as más línguas, tinha parte com o tinhoso. Todos abominavam e, principalmente, temiam muito o animal, mas Capito seu dono, divergia de tal conceito, pois para ele os queixumes murmurados de boca em boca pelo bairro, era produto de puro preconceito contra o animal, já que não via a menor ferocidade no animal, ao contrário, para Capito o animal era até dócil demais, amoroso, brincalhão e fiel. As pessoas da Picinguaba daqueles idos tempos, não conseguiam entender o conceito de Capito sobre o cão, e quando o mesmo se derramava em elogios para com a besta fera, diziam que ele ou estava com mangação, ou sem dúvida se referia a um outro cachorro que nunca haviam conhecido. A polemica na vila de Picinguaba se mantinha, sempre extremamente acalorada, de um lado todos os moradores da praia, que queriam se ver livre do Feroz, de outro Capito, que defendia de unhas e dentes seu querido cãozinho. Ocorre que numa linda manhã de verão, ia passando Capito perto da praia, quando avistou a luta de seu dócil cãozinho, que investia como demônio em cima de Leléco, morador do local, que se defendia às duras penas, com um pedaço de pau na mão, tentando desesperadamente, já todo ensangüentado, se desvencilhar da besta fera canina, que não lhe dava o mínimo refresco. Quando Capito se aproximou um pouco mais da dantesca cena, não teve dúvidas, deu meia volta rapidamente, somente murmurando desesperado, "já me vou indo embora sem perda de tempo, porque não quero nem ver o fim final do Feroz!" Assim, por longos anos na Picinguaba, quando ocorria um fato eivado de injustiça, os moradores logo diziam: - "Não quero nem ver, o final do Feroz"! (Aládio Teixeira Leite Filho, um escrevinhador caiçara.)
Nota do Editor: Aládio Teixeira Leite Filho é natural de Ubatuba e se auto-intitula: "um escrevinhador caiçara".
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