Nenê Velloso      Croqui.

Naquela época, quem vinha de São Paulo via Caraguatatuba, a única entrada e saída da cidade, era a rua Capitão Felipe, e poucos se arriscavam a descerem, ou subirem via Taubaté, com medo da sinuosa e temida serra de Ubatuba. Com o projeto da grande avenida da Orla, com quatro pistas, o Itaguá precisava de entrada e saída independentes. Siga o croqui: Então, prolongamos a reta da praia Grande, passando por dentro do Tenório até a avenida Leovigildo Dias Vieira, que seria a entrada da cidade, e a saída, pela rua Capitão Felipe, e mais uma rua de ligação projetada sobre o rio Acaraú, se interligando com a rua Capitão Felipe e a futura avenida, hoje, avenida Francisco Matarazzo Sobrinho. Dr Wladimir de Toledo Piza proprietário da praia do Tenório e o homem forte do governo Matarazzo, quando soube da projeção da reta da praia Grande, que passaria por dentro da sua propriedade, (virou bicho), imediatamente deu entrada em um projeto de loteamento para ser aprovado antes que o Sistema Viário fosse aprovado pela Câmara.

De nada adiantou porque a partir do dia em que o topógrafo Roberto Nielsen foi contratado para projetar o Sistema Viário, o profundo conhecedor da topografia e dos problemas viários da cidade, já tinha as diretrizes na cabeça. Nada mais seria aprovado se contrariasse este plano. O engº chefe do Planejamento e Urbanismo, que era o Dr. Amâncio Lemes Figueiredo, não poderia mais aprovar nenhum projeto, sem apreciação do topógrafo Roberto e somente depois do seu nada ao opor. Na sua ausência, por ordem expressa do prefeito, porque esse projeto era dele, respondia os dois desenhistas, BIP & Nenê Velloso (essa era a bronca dos engenheiros). Quando o engenheiro da prefeitura assinava projetos particulares, não podia aprovar o que assinou, passava primeiro pela seção de desenho, e, se estivesse de acordo com as diretrizes, era despachado para o gabinete para aprovação pelo prefeito. É assim que se faz, isto é o correto.

Dr Piza apresentou o primeiro projeto do Tenório, mas desviando o prolongamento da reta da praia Grande pela marginal do Jardim Praia do Sol entrando na rua Capitão Felipe, mas não conseguiu aprovação. Seu Matarazzo veio falar com o Roberto, mas depois das justificativas apresentadas, eu estava ao lado, quando o prefeito disse: SÊ É ASSIM... A CIDADE EM PRIMEIRO LUGAR. Hoje, é trágico saber que os seus sucessores pensaram o contrário. Dr Piza apresentou o segundo projeto, dessa vez, com a projeção da reta da praia Grande passando por dentro do Tenório, hoje, avenida Francisco Matarazzo Sobrinho, mesmo assim, ainda não foi aprovado, porque não constava do projeto uma avenida com estacionamentos e área de lazer, nos 33,00 metros de reserva da faixa de marinha. Este projeto acabou sendo aprovado mais tarde, no último dia, por um outro engenheiro de fora, recém-contratado, mas sem a nossa aprovação.

Em 1976, pedi afastamento da prefeitura para tratar de assuntos particulares e não mais voltei. Para minha surpresa, 38 anos depois, em janeiro de 2005, fui à minha seção de desenho e esta aprovação de 1968 não mais existe nos seus arquivos, só encontrei uma aprovação datada de 1980. Desapareceram também as seguintes plantas: os originais do Sistema Viário da Cidade, levantamento cadastral da avenida Dr Félix Guisard, avenida Manoel da Nóbrega e as casas da avenida Guarani / avenida 9 de Julho, que estavam prontinhas para instruir o processo de desapropriações, e mais outros projetos que estavam encadernados, em três volumes, sendo um deles, em capa mais grossa, estampada com letras douradas em relevo, intitulado: "COMPLEXO HISTÓRICO, TURÍSTICO, COMERCIAL E ESPORTIVO BOCA DA BARRA". Em várias matérias já publicadas, atribuíram como uma Maldição de Cunhambebe a situação caótica em que vive Ubatuba. Você internauta, concorda com isto?

E 40 anos depois... Nada mudou, tudo piorou.

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