Inicio hoje (oficial e tardiamente) minha coluna na revista O Guaruçá. Pretensão nenhuma e ainda assim, incalculável. O que me move é o gosto pela escrita e a curiosidade típica de jornalista, sem contar o novo desafio, que me dá aquela gostosa sensação de gelinho na barriga. Confesso que pensei bastante antes de ligar pro Luiz Moura e pedir para ele colocar minha fotinho lá no meio de escritores ubatubenses que eu tanto admiro. Enfim, aqui estou. Como sempre, venceu a paixão e o fascínio pela novidade. Sei que muitas controvérsias estão por vir, pois tenho aquela mania irremediável dos poetas de escrever melhor nos meus piores momentos. Na verdade, quero construir essa coluna com a ajuda de quem quiser ler as minhas poetices. Quero falar sobre assuntos que calam fundo na alma: inquietações, questionamentos sobre a vida e a morte, descobertas, sonhos, prazeres e reflexões, enfim, coisas de ser humano mesmo. Embora a vida tenha essa tendência a nos tornar cada vez mais apressados, inquietos e rígidos, eu proponho um retorno ao sentimento e aos assuntos que deixamos de lado em nome das prioridades da sobrevivência. Minha experiência agora será interagir com as pessoas. Digo isso porque, durante toda a vida, meus poemas estiveram sempre guardados em caixas, gavetas e agendas. Fragmentos de vida rabiscados no fim do caderno, durante uma aula qualquer... A verdade é que a escrita sempre serviu de escape, quando eu queria gritar ao mundo o inconfessável, minha perplexidade diante da vida. No final, éramos cúmplices, eu e o papel. Ele aceitava tudo o que eu dizia e mantinha segredo, amarelado de vontade de voar... Hoje, meu papel é virtual, o vício tornou-se profissão (é, gente, estou quase me formando!) e o lide censurou minha liberdade de expressão. Por isso, essa coluna se destina a ser algo entre a poesia e o jornalismo, misturando as crônicas, a filosofia e a literatura. Vamos ver que bicho que dá! Espero que vocês se animem e participem! E para começar... Antagonismos É realmente difícil esse negócio de ser humano mesmo sendo bicho negar sentimentos e instintos, baseando-se em regras Cultivar complexos, culpas e hipocrisias Ser espiritual, mesmo sendo matéria Ter controle e desapego, livrar-se das armadilhas do ego Amar incondicionalmente, sem querer possuir Até quando o amor significa bem estar, prazer e proteção Sentir os chakras tentando girar, o prana querendo passar Pelas nádis intoxicadas ou entupidas De pensamentos, sensações e comidas Que nem sempre conseguimos evitar Trazer à tona o Shiva poderoso, Das profundezas de uma alma feminina e sensível Descobrir a força bruta necessária para sobreviver Contrariando tudo o que foi imposto pela família e a sociedade Ser um indivíduo fisicamente saudável, perfeito E precisar de alguém para sentir-me completa, Feito os seres andróginos da mitologia grega, Que dependem da união para se igualar aos deuses Aprender a falar diversas línguas E ser incapaz de entender o próprio cachorro Quando ele tenta dizer algo diferente, Não saber o que matou a planta Se foi excesso de água ou falta de terra... Fazer cada dia render uma semana, Arrumar três empregos diferentes e não ter nenhum puto no bolso, E, apesar disso, encontrar tempo e tranqüilidade para meditar Por um momento, esquecer as contas, problemas e compromissos Pagar incontáveis impostos, E não ter garantidos os direitos humanos mais elementares, Podendo contar apenas com a sorte Quando o assunto é saúde, segurança ou educação São dicotomias diárias e constantes Com as quais é necessário lidar, digerir, optar Sem que haja o devido tempo para refletir, sem que a vida pare um momento sequer... E assim, sem perceber, o presente vai sendo desperdiçado Entre devaneios sobre o futuro e sofrimentos do passado Deixamos de viver o único e real instante De toda prática, a lição mais importante: estar aqui e agora, somente... Porque em meio a esse turbilhão vive a essência, A plenitude do espírito procurando se manter Um ser primitivo tentando se equilibrar, Alinhar os diversos corpos contidos em si Nesse processo mágico da existência, É preciso viver despertando a consciência Observar o universo interno com atenção buscando a própria luz, o sentido da vida e a razão
Nota do Editor: Aline Rezende é jornalista, meio poeta, um tanto quanto caiçara e completamente utópica.
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