Não, isso não é mentira. Eu vi um homem andando nu Pela rua da praia do Perequê-Açú Ia tranqüilo sentindo a brisa do entardecer nos pêlos pubianos além disso, uma leve garoa caía o céu lá no horizonte estava cor-de-rosa e um arco-íris coroava o morro da Barra Seca O mar, sereno, espelhava toda a beleza do cenário De repente... um homem nu na minha frente nem bonito, nem feio. Um homem normal. Confesso: fiz questão de olhar De frente e de costas para constatar sua nudez que seguia, despropositada deixando um rastro de pessoas atordoadas sem reação, boquiabertas, literalmente e eu, presenciava tudo aquilo na contra-mão da história Um acontecimento sem precedentes na vida Embora povoe o imaginário de muita gente Quem nunca sonhou que caminhava pelado, Pela rua, no trabalho ou na escola? Mas esse homem não parecia nada constrangido Ele debochava da sociedade, explicitamente Balangando de um lado para o outro sua indiferença Fiquei a filosofar mentalmente a antropologia O contexto psicofísicoeconomicosocial da situação Imaginando o que o levou a fazer isso Mas não tive a ousadia de perguntar Também não acho que ele responderia Mesmo porque, sem dúvida, seria uma looonga história E eu não saberia como me portar nessa entrevista Continuei pedalando rumo à minha casa Sem saber o final do episódio Meus pudores me impediram de seguir o homem Que seguia determinado o seu caminho Realmente não sei se pretendia chegar ao Centro, mas o fato é que ele andou bastante e à vontade Causando espanto na comunidade Ao contrário do que se poderia imaginar O homem nu do Perequê-Açú não causou alarido Nem mesmo histeria ou violência, apenas um burburinho Demorou para que alguém tivesse a idéia de enfiar a mão no bolso, sacar o celular e discar 190 As pessoas pareciam não saber se era crime ou não Andar pelado ao entardecer sentindo a brisa nos pêlos pubianos ao menos uma vez na vida "esse rapaz só pode estar drogado!" ouvi alguém profetizar não sei se era bem isso seu passo parecia firme, consciente, seguro Gargalhei sozinha ao recompor tão insólito acontecimento Que, afinal, tornou-se mais uma poesia-crônica Curta-metragem sem fim, fragmento de vida Só me restava dividir com o papel as impressões... E você aí, navegante... qual a sua opinião sobre o episódio descrito acima?
Nota do Editor: Aline Rezende é jornalista, meio poeta, um tanto quanto caiçara e completamente utópica.
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